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Wednesday, February 15, 2012

"Tulpan": notícias do Kazaquistão


Tulpan, de Sergey Dvortsevoy, é uma pequena grande revelação do cinema do Kazaquistão: através da história de uma família dedicada ao tratamento e sobrevivência do seu rebanho, descobrimos a história dramática e irónica de um jovem que quer que a sua eleita (Tulpan) aceite casar com ele... O realizador, formado no documentário, ensaia aqui o seu primeiro trabalho de ficção — a entrevista que se segue foi publicada no Diário de Notícias (31 de Dezembro).

Sergey Dvortsevoy reconhece as componentes documentais do seu filme Tulpan, mas faz questão em sublinhar que tudo foi concebido como um trabalho de ficção. Amavelmente, o realizador prestou-se a responder a algumas questões através de e-mail.

Ao filmar Tulpan, sentiu que estava de alguma maneira a fazer “outro” tipo de documentário?

Não. Senti-me a fazer um filme de ficção, já que todas as situações e relações entre as personagens eram ficcionais. Claro que sabia que as cenas com animais iam ser próximas do documentário: os animais não representam, apenas vivem. Em todo o caso, não tinha dúvidas de estar a fazer um filme de ficção. Se se parece com um documentário, bem... entendo-o como um cumprimento. Sinto-me feliz por os meus actores terem esse tipo de presença orgânica.

Onde se situa a acção? É uma zona muito distante das principais cidades do Kazaquistão?
Estamos no Kazaquistão Central, a 500 quilómetros da cidade de Shimkent. É um lugar conhecido como a “Estepe da Fome”. São centenas de quilómetros de estepe plana: sem árvores, sem colinas, sem montanhas.

Como escolheu os actores? Era importante que, de alguma maneira, soubessem como viver numa paisagem daquele tipo?
Em primeiro lugar, tentei encontrar bons actores, isto é, actores com uma presença muito física (detesto a maneira “teatral” de representar). E não foi fácil. Enviei os meus assistentes com uma pequena câmara, para filmarem pessoas numa série de cidades do Kazaquistão. Daí que tenha acabado por ter vários candidatos para cada uma das personagens. Acabei por escolher jovens actores profissionais e também alguns habitantes locais.

E as crianças? Como as dirigiu?
Nunca ensaiei com as crianças, especialmente com o mais pequenito. Limitei-me a brincar com ele. Por exemplo nas cenas no “yourt” (a casa/tenda), ensaiávamos com todos os actores e a equipa, depois abríamos as portas e o rapaz aparecia. Era como estar numa gaiola num circo: o rapaz era o leão mais jovem. Fazia o que lhe apetecia, enquanto os actores representavam.

Que importância teve o prémio na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes (2008)? Serviu para abrir novos canais de distribuição?
O prémio de “Un Certain Regard” foi importantíssimo: graças a ele, o filme foi vendido para mais de quarenta países.

Tuesday, December 27, 2011

O choque do presente


Tal como na música cada vez mais estão esbatidas as antigas fronteiras entre géneros, também no cinema as linguagens tendem hoje a diluir-se entre si. Tal como em Atanarjuat – O Corredor, de Zacharias Knut, em Tulpan cruzam-se pontos de vista. Mas, e mesmo seguro de uma linha narrativa de ficção que o suporta, Tulpan não esconde um olhar assinado por quem, até aqui, ao olhar o mundo com uma câmara, o projectava na forma de documentários.


Sergey Dvortsevoy, natural do Cazaquistão, tem já uma obra repartida entre curtas e médias-metragens, e um currículo que conta com prémios em festivais de cinema documental em Leipzig ou Lyon. Tulpan, que na passada semana estreou entre nós (e passou numa das edições anteriores do Estoril Film Festival) foca o seu olhar no espaço fisicamente desolado da estepe cazaque, tomando como centro de gravidade uma família nómada que cria ovelhas e dois jovens em plena idade dos sonhos. Asa está de regresso depois de cumprido o serviço militar na marinha e sabe que só terá o seu rebanho de ovelhas depois de casar. Tulpan é a mulher com quem sonha viver. Um terceiro elemento em cena é Boni, que surge recorrentemente do nada que é a vastidão sovada pelo vento da estepe, inevitavelmente ao som doe Rivers Of Babylon, dos Boney M.

Entre o sonho de uma vida familiar segundo os ecos da tradição e a “alternativa” urbana que se coloca hoje no horizonte de muitos jovens cazaques, Tulpan olha o texto da narrativa que nos propõe tomando o contexto (geográfico e antropológico) com peso igualmente protagonista. Não é como um documentário com histórias (de ficção) de gente dentro. Antes uma reflecção que parte de figuras e trama ficcionadas que, na verdade, observa de perto o conflito que o presente coloca perante a vida de quem carrega uma “genética” quotidiana plena de hábitos de outros tempos.



Imagens do trailer de Tulpan.