Saturday, July 30, 2011

Fotogramas de 2010 (5)


* SHUTTER ISLAND, de Martin Scorsese

Na gíria tecnicista, o digital estaria a "ameaçar" os actores, podendo mesmo substituí-los. Ora, como demonstra Martin Scorsese, não se trata de escolher uma coisa ou outra, mas de trabalhar com ambas: num momento carregado de simbolismo, Michelle Williams esfuma-se nos braços de Leonardo DiCaprio, sem que isso nos leve a qualquer tipo de fixação no "efeito especial" — o que importa é o facto de tudo contribuir para intensificar a carga humana do instante. Afinal, o humano não é o contrário da técnica, mas o assombramento carnal da sua origem.

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Monday, July 25, 2011

Raúl Ruiz + Paulo Branco + cinema português


Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz, venceu o Prémio Louis Delluc: um grande acontecimento e um bom pretexto para relançarmos algumas questões da produção cinematográfica portuguesa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 de Dezembro), com o título 'Na consagração de "Mistérios de Lisboa"'.

Há qualquer coisa de doentio no modo como os graves e complexos problemas do cinema português (a começar pela sua estrita sobrevivência económica) são tantas vezes dirimidos como um inapelável conflito entre “arte” e “comércio”. Pensemos no contraponto com que nos desafiam os americanos. Desde a paternidade simbólica de David S. Griffith (1875-1948), os EUA, não por acaso detentores da mais poderosa cinematografia do planeta, compreenderam que aqueles dois elementos não são estanques nem necessariamente opostos no seu funcionamento. Em boa verdade, são insuficientes, para não dizer incorrectos, para descrever a dinâmica de qualquer contexto de produção.
O que está em jogo, entenda-se, não é nenhuma filosofia pueril para fazermos “à maneira de” (sabemos, aliás, o desastre que são a esmagadora maioria das imitações do cinema americano por europeus). Trata-se de não perder nenhuma oportunidade para valorizarmos e rentabilizarmos (em todos os sentidos) as conquistas reais da produção cinematográfica portuguesa.
A atribuição do Prémio Louis Delluc, em França, ao filme Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz [foto à direita], é uma dessas oportunidades. Antes do mais, como é óbvio, porque consagra um extraordinário trabalho de reconversão da escrita de Camilo Castelo Branco, subtilmente “cinematizada” pelo argumentista Carlos Saboga e, depois, admiravelmente encenada por Ruiz. Mas também porque na sua assinatura de produção surge o nome de Paulo Branco, um dos que mais consistentemente tem apostado na pluralidade do cinema português e também nas suas ramificações internacionais (Branco está a produzir, por exemplo, o filme Cosmopolis, de David Cronenberg).
Uma das manifestações mais estúpidas que, não poucas vezes, atravessa o debate (?) sobre o cinema português é a que obriga a estar “pró” ou “contra” Paulo Branco [foto à esquerda]. Aliás, a infeliz memória colectiva dos portugueses já esqueceu que, não há muitos anos, se promovia a mesma estupidez, com toda a carga de insinuações e chantagens, em torno do nome de Manoel de Oliveira. A questão é outra, é sempre outra. O modelo de Paulo Branco não é “bom” nem “mau”, muito menos “universal”. A questão, como sempre, está nos detalhes. E que Mistérios de Lisboa ganhe um dos prémios mais importantes de todo o espaço europeu do cinema (já atribuído, entre muitos outros, a Robert Bresson, Jean-Luc Godard e Alain Resnais), eis um detalhe interessante.
Compreendemos, assim, que é possível fazer uma produção criativa e ousada que não se submeta ao império da ficção “telenovelesca”. Mais ainda: compreendemos que é possível manter uma relação viva com a televisão (Mistérios de Lisboa passará também, como mini-série, na RTP) sem ceder à mediocridade dos seus padrões dominantes. Não é cómodo reconhecê-lo, mas este Prémio Louis Delluc ecoa, no espaço português, como um facto eminentemente político.

Wednesday, July 20, 2011

Canções do ano (3)James Blake, Limit To Your Love


Continuando a revisitar as grandes canções que fizeram história em 2010, aqui fica hoje uma que, na verdade, lança pistas para 2010. Trata-se de Limit To Your Love, uma versão de um original de Feist que representa o single novo de James Blake, anunciando a edição de um álbum de estreia agendado para Fevereiro de 2011. Resta acrescentar que em James Blake encontra

Saturday, July 16, 2011

Pelos discos de Gustavo Dudamel (2)


O segundo episódio na vida discográfica de Gustavo Dudamel levou o maestro a gravar, com a Orquestra Sinfónica Juvenil Simón Bolívar, a Sinfonia Nº 5 de Gustav Mahler. A obra do compositor tem merecido particular atenção do maestro desde então.

Tuesday, July 12, 2011

Marc and The Mambas, 1983 (2)


Mais um olhar sobre a discografia do projecto Marc and The Mambas, aventura paralela de Marc Almond nos dias em que militava nos Soft Cell. Segundo single do álbum Torment and Toreros, de 1983, este é Torment.



Marc and The Mambas
'Torment' (1983)

Wednesday, July 6, 2011

Novas edições: Daft Punk, Tron - Legacy


Daft Punk
“Tron – Legacy Original Soundtrack”

Walt Disney Recods / EMI

3 / 5


Foi das primeiras notícias a chamar atenções para a sequela de Tron que agora chega aos cinemas portugueses: os Daft Punk iam assinar a banda sonora! A história começou num encontro em 2007 entre o realizador Joseph Kosinski e os dois elementos do duo electrónico francês. O primeiro procurava uma música para a sequela de um filme cuja banda sonora havido composta por Wendy Carlos (cuja história de relacionamento com o cinema passa também pela ainda mais marcante música que criou para A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick). Os segundos manifestavam uma admiração quase sagrada pelo filme de 1982 de Steven Lisberger, pela sua frente abrindo-se a hipótese para a criação de uma música que cruzasse uma noção de sinfonismo orquestral com uma ideia de minimalismo electrónico. Diferente portanto do carácter épico, mas apenas para teclas analógicas, que Wendy Carlos definira para o Tron original e ainda mais distante da música que os Daft Punk tinham gravado no álbum Discovery e que acabara usada para acompanhar imagens do filme Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem, na verdade uma visualização, faixa a faixa, dos temas do álbum, numa aventura de animação assinada por Kazuhisa Takenouchi. Quem abordar o disco com a banda sonora de Tron – Legacy na esperança de encontrar um “novo disco” dos Daft Punk será desapontado. Mas convenhamos que estamos perante a sua contribuição para um filme e não o inverso. A música traduz na essência genéticas que conhecemos na música do duo francês, nomeadamente o pulsar da sua matriz rítmica (embora aqui por vezes despida da intensidade das batidas) e o frequente recurso a estruturas repetitivas. A integração das electrónicas com a intensidade dramática que os arranjos para orquestra procuraram (lembremo-nos que, visualmente, o novo Tron não segue necessariamente a matriz minimalista do original) parece conseguida, a pontos surgindo como elementos adicionais algumas sugestões de bleeps que logo associamos às linguagens sonoras dos jogos de computador. Contudo, à excepção de alguns momentos (como o já conhecido Derezzed), a música de Tron Legacy precisa das imagens para ter corpo. O disco da banda sonora, mesmo reflectindo uma boa estreia dos Daft Punk neste departamento, não vive senão como um complemento directo ao filme (mas convenhamos que, ao contrário da música de A Laranja Mecânica, também a banda sonora de Wendy Carlos para o Tron original pede aquelas imagens para ganhar pleno sentido).

Saturday, July 2, 2011

Mais um nome para 2011


E começam a juntar-se os nomes para seguir com atenção em 2011. O britânico Jamie Woon é mais um deles. O seu álbum de estreia chega só no ano novo. Mas já por aí se escuta Night Air, single com produção de Burial. O teledisco é de Lorenzo Fonda.