Showing posts with label Fritz Lang. Show all posts
Showing posts with label Fritz Lang. Show all posts

Friday, August 10, 2012

Para (re)descobrir 'Metropolis'


Tem já edição local em DVD a versão restaurada de Metropolis, filme clássico de Fritz Lang e uma das obras-primas do cinema mudo, numa edição com dois discos (e bons extras).


Obra maior da história do cinema e um dos títulos fundadores do cinema de ficção científica, Metropolis foi na verdade um “caso” difícil antes do tempo lhe reconhecer o estatuto que hoje é universalmente atribuído a este filme de Fritz Lang originalmente estreado em 1927. A história, que se desenrola numa cidade do futuro que divide os espaços entre a população ócios, que vive à superfície, e a trabalhadora, que nos subterrâneos garante o bem estar aos primeiros (na verdade não mais senão uma variação socialmente vitaminada de uma visão já antes proposta por H.G. Wells na sua Máquina do Tempo) juntava ainda outros ingredientes, entre os quais uma pitada de aqruitectura futurista, um sub-texto religioso e tecnologia quanto baste. Mas de tão longo que ero o filme, a distribuidora optou desde logo por um corte, aos ecrãs do mundo inteiro tendo então chegado essa versão de metragem reduzida. Durante anos foi esse o Metropolis que se conhecia, a versão integral original entretanto dada como perdida (e em alguns restauros recentes os momentos em falta sendo substituídos por inserções de texto que, por conhecido o guião, permitiram uma ideia do que estaria em falta...

Tudo mudou quando, em 2008, de um arquivo cinematográfico argentino chegou a notícia da descoberta de uma versão integral do filme. Novamente restaurado, integrando as cenas em falta (algumas com uma qualidade de imagem inferior, mal menor para quem pretenda reencontrar a visão original de Fritz Lang), Metropolis começou por ser exibido em grandes ecrãs (foi visto na 60ª Berlinale, há precisamente um ano. Se as cenas agora adicionadas puderam ser entendidas como “cortáveis”, não afectando profundamente o âmago do relato da narrativa, a verdade é que acrescentam muito à caracterização não apenas das personagens mas sobretudo à visão de uma cidade estratificada que era afinal a base para a história idealizada e filmada por Fritz Lang. Agora a versão completa do filme chega ao DVD numa edição dupla que lhe acrescenta ainda documentários que não só relatam esta descoberta recente como a história de Metropolis, referindo ainda o retrato o contexto em que o filme nasceu.

Tuesday, December 20, 2011

Música para uma câmara de filmar


O cinema de Dziga Vertov foi já por várias vezes visitado por inúmeros músicos, o desafio de dar novos sons a imagens que sem eles nasceram de resto projectando-se através das obras de tantos outros cineastas do mundo, de Dreyer ou Murnau a Fritz Lang, entre muitos outros mais. Vertov é uma vez mais o ponto de partida para uma abordagem feita de sons, desta vez pelo compositor britânico Michael Nyman.

Em tempos tendo conhecido uma estreita relação com o cinema de Peter Greenaway (para quem assinou uma extensa obra musical, passando por filmes como A Zed And Two Noughts ou The Cook, The Thief, His Wife and Her Lover), Michael Nyman tinha já em tempos criado uma banda sonora para o clássico O Homem da Câmara de Filmar, obra-prima do mudo e o filme mais citado da filmografia de Vertov. Um reencontro com a obra do cineasta russo levou-o a criar música para os filmes, respectivamente de 1926 e 28 Shestaya chast mira (habitualmente apresentado com o título em inglês Sixth Part Of The World) e Odinnadtsatyy (The Eleventh Year). Tal como O Homem da Câmara de Filmar são títulos que ajudaram a definir uma linguagem documental mais poética que feita de prosa, o olhar da câmara de Vertov e a sua forma de sequenciar e montar imagens sendo reconhecida pelo próprio Michael Nyman como tendo afinidades com o trabalho de um compositor. De resto, num texto sobre os dois filmes (feito para a sua recente edição em DVD, com a música de Nyman), recordam-se textos publicados à época da estreia de Sixth Part Of The World, que o tratam como “poema de factos” e “uma sinfonia em cinema”. Referência central do minimalismo europeu (a cunhagem do termo ‘minimalismo’ é, de resto, de sua autoria, Michael Nyman reencontra na música que criou para estes dois filmes alguma da cor sinfonista, ritmicamente vibrante e melodicamente luminosa que recordamos de algumas das suas bandas sonoras para os primeiros filmes de Greenaway. Não será um mundo de surpresas, mas por aqui moram alguns dos melhores momentos da obra recente do compositor.