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Wednesday, October 17, 2012

Os melhores livros de 2010

E depois das listas dos melhores discos e filmes de 2010, hoje apresentamos um olhar pelos livros que marcaram o ano.

N.G.:


Entre a oferta digital, para leitura em eBook e a ainda “clássica” opção pelo papel, o ano livreiro elegeu uma nova estrela em Jonathan Franzen, cujo novo romance (Freedom) chegará a estas paragens, em tradução para português, em 2011. Saúda-se a reedição de O Homem no Castelo Alto, de Philip K. Dick e Duna, de Frank Herbert pela Saída de Emergência, numa política de reencontro com “clássicos” da ficção-científica que esperamos tenha continuidade no ano novo (a ver se é desta que se “descobre” Kim Stanley Robinson por estes lados, de preferência com a trilogia marciana...). Num ano em que chegou ao cinema a adaptação, por Tom Ford, de A Single Man, Christopher Isherwood continuou a ser nome sem expressão na nova oferta editorial portuguesa. Da lista que se segue, destaque para um livro que ajudou a definir uma ideia de literatura moderna americana, através de um conjunto de retratos das figuras de uma pequena cidade no Ohio, em inícios do século XX, tomando um jovem jornalista de um título local como centro das atenções. Os títulos em tradução portuguesa são todos eles edições de 2010 (apesar de, na origem, poderem representar textos de tempos bem variados).

1. Sherwood Anderson “Winesburg, Ohio”
2. Elise Blackwell “Fome”
3. Hunter S. Thompson “Diário a Rum”
4. David Byrne “Diário da Bicicleta”
5. Truman Capote “Outras Vozes, Outros Lugares”
6. Dino Buzzati “O Grande Retrato”
7. Luis Diferr “Portugal”
8. Misha Aster “The Reichsorchester”
9. Nicola Lecca “Hotel Borg”
10. Neil Jordan “Amanhecer Com Monstro Marinho”

J.L.:


Na contabilidade individual do lido/não lido, entre memórias cruzadas de novidades e reedições (há livros que marcaram 2010, mas podem vir do ano anterior), fica uma evidência que os expositores da maior parte das livrarias (e supermercados, hélas!) ilustram: o mercado passou a estar dominado pelo marketing da "personalização" e pelos sucedâneos "introspectivos" da imprensa cor de rosa. É neste contexto que o livro de Patti Smith pode servir de símbolo de resistência: evocando a sua vida com Robert Mapplethorpe (1946-1989), Smith repõe a irredutibilidade da história, de todas as histórias — dizer "eu" é muito difícil; escrevê-lo ainda mais.

1. Patti Smith, "Just Kids"
2. Paul Auster, "Sunset Park"
3. Bernard-Henry Lévy, "De la Guerre en Philosophie"
4. Barry Sanders, "Unsuspecting Souls"
5. Philippe Sollers, "Discours Parfait"
6. Rómulo de Carvalho, "Memórias"
7. Lou Reed, "Romanticism"
8. Preston Sturges, "Preston Sturges"
9. Eduardo Marçal Grilo, "Se Não Estudas, Estás Tramado"
10. H. W. Janson, "A Nova História da Arte de Janson"

Wednesday, October 3, 2012

Patti e Robert: memórias da luz


Foi um dos grandes acontecimentos entre os livros de 2010: com Just Kids, Patti Smith evoca o tempo, a demanda artística e a irmandade afectiva vivida com Robert Mapplethorpe — são palavras em que a alegria e a mágoa se dizem, afinal, através de uma serenidade que transporta uma verdade irredutível.
Já próximo do final do livro, Patti Smith evoca a sessão de fotografias para o seu primeiro álbum, Horses (1975): momentos de tocante intimidade, marcados pela ânsia de Mapplethorpe, empenhado em não perder o "triângulo de luz" que ficaria na imagem da capa [em cima], com o tempo transfigurada em ícone da história do rock'n'roll. Citação:

>>> I flung my jacket over my shoulder, Frank Sinatra style. I was full of references. He was full of light and shadow.
   "It's back," he said.
   He took a few more shots.
   "I got it."
   "How do you know?"
   "I just know."
   He took twelve pictures that day.
   Within a few days he showed me the contact sheet. "This one has the magic," he said.
   When I look at it now, I never see me. I see us. <<<

Auto-retrato, ROBERT MAPPLETHORPE (1946-1989)
>>> Site oficial de Patti Smith.
>>> Site oficial da Fundação Robert Mapplethorpe.
>>> Just Kids, National Book Award.

Friday, March 2, 2012

1970/80 — Nova Iorque nas imagens de James Hamilton

Patti Smith
1970

É difícil acreditar que eles tenham sido tão novos... Assim se escreve na Vanity Fair, apresentando as fotografias de uma série de personalidades da música, obtidas por James Hamilton, para o jornal The Village Voice, ao longo das décadas de 1970/80. Nico, Debbie Harry, Patti Smith, Madonna, LL Cool J, os Sonic Youth e os Ramones são alguns dos protagonistas de um portfolio carregado de verdade e nostalgia, agora editado em livro — a edição é de Thurston Moore e o título You Should Have Heard Just What I Seen.

Branford e Wynton Marsalis
1982

Saturday, October 22, 2011

Luz e sombras de Bruce Springsteen (3/3)


[1] [2] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a terceira parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro). Em baixo, um registo de 1978, com o tema The Promise, que empresta o título ao álbum de gravações inéditas, editado em simultâneo com a remasterização de Darkness on the Edge of Town.

Ao longo da década de 70, a iconografia clássica da estrela rock sofreu os mais diversos abalos. Lembremos apenas as sucessivas máscaras do camaleónico David Bowie ou a pose andrógina de Patti Smith, fotografada por Robert Mapplethorpe na capa de Horses (1975), um ícone universal de toda a história da música popular.
Na sua assumida distância, a capa de Darkness on the Edge of Town é outro exemplo carregado de simbolismo. De facto, o retrato assinado por Frank Stefanko (curiosamente, também um fotógrafo regular de Patti Smith) apresenta-nos um Bruce Springsteen alheado de qualquer conotação de vedeta. Mais tarde, o próprio Bruce viria a reconhecê-lo de modo certeiro, quando referiu que Stefanko “anulou qualquer efeito de celebridade”, deixando apenas uma “essência” que rima com o despojamento do próprio álbum.
Em boa verdade, estamos perante alguém que sempre mostrou alguma relutância face aos modos correntes de tratamento mediático. Mesmo no campo particular dos telediscos: embora haja alguns magníficos exemplos a pontuar o seu trajecto, o certo é que Bruce nunca se deu bem com a obrigação de fazer “pose”. Nessa medida, e embora não esquecendo o rigor dos seus trabalhos em estúdio, sempre se afirmou como um “animal de palco”, alguém para quem a vibração da música implica a procura obstinada (e também o desejo) de alguma audiência.
A sua aparição na capa de Darkness on the Edge of Town possui a frieza paradoxal (porque comunicativa) de uma personagem que não sabemos decifrar, mas que nos deixa uma certeza muito humana: a de que é alguém com uma história muito concreta, única e irredutível. Sendo ele um genuíno contador de histórias, podemos, talvez, concluir que todas as histórias que nos tem contado são derivações mais ou menos calculadas de uma autobiografia em suspenso.

Thursday, June 2, 2011

Novas edições: Anna Calvi, Anna Calvi


Anna Calvi
“Anna Calvi”

Domino / Edel

5 / 5


O ano não podia começar de melhor maneira! Chama-se Anna Calvi, correu em tempos pelos circuitos nu-folk londrinos, mas descobriu um caminho num espaço que tanto herda de tradições clássicas da cultura pop/rock como de um sentido de elaboração cénica que mais parece coisa do mundo do cinema. De resto, e além dos rasgados elogios (plenamente justificados) de Brian Eno, um dos seus admiradores de primeira hora, o desfile de nomes que temos visto associados a textos sobre Anna Calvi vai de figuras tutelares como as de Pattti Smith ou PJ Harvey (todavia sem a alma poética da primeira) a respeitáveis realizadores como David Lynch ou Wong Kar-Wai. Referências em tudo certeiras, acrescente-se. O álbum que apresenta um dos nomes apontados em várias frentes a merecer atenções em 2011 não só dá plena razão em quem depositou expectativas em Anna Calvi como nos mostra um daqueles raros discos de estreia que parecem mais que um promissor programa de intenções. As canções não são apenas exemplos de composição de aprumada carpintaria como se mostram formalmente moldadas a uma ideia que serve em plenitude as capacidades dramáticas de uma voz que ecoa heranças de Patti Smith, PJ Harvey ou Siouxsie Sioux e faz corar de vergonha as alminhas góticas de pré-primária que a maré de inconsequente revivalismo gótico tem revelado nos últimos tempos. A música de Anna Calvi revela horizontes vastos, espreitando além das cercanias próximas as genéticas da música eléctrica e integrando elementos que expressam um sentido de espaço, definindo sugestões de ambiente e cenografia com afinidades ao que encontramos, por exemplo, no cinema de um David Lynch. As sombras que intrigam, a escuridão que se anuncia, habitando em torno de uma voz que liberta a luz mas habita não muito distante de uma cativante penumbra que não se explica mas sente. Em dez canções (a soma “clássica”) Anna Calvi apresenta-se com invulgar segurança para quem dá os primeiros passos. E tem em Anna Calvi o cartão de visita certo para desde já inscrever o seu nome entre os acontecimentos do ano.