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Wednesday, October 3, 2012

Patti e Robert: memórias da luz


Foi um dos grandes acontecimentos entre os livros de 2010: com Just Kids, Patti Smith evoca o tempo, a demanda artística e a irmandade afectiva vivida com Robert Mapplethorpe — são palavras em que a alegria e a mágoa se dizem, afinal, através de uma serenidade que transporta uma verdade irredutível.
Já próximo do final do livro, Patti Smith evoca a sessão de fotografias para o seu primeiro álbum, Horses (1975): momentos de tocante intimidade, marcados pela ânsia de Mapplethorpe, empenhado em não perder o "triângulo de luz" que ficaria na imagem da capa [em cima], com o tempo transfigurada em ícone da história do rock'n'roll. Citação:

>>> I flung my jacket over my shoulder, Frank Sinatra style. I was full of references. He was full of light and shadow.
   "It's back," he said.
   He took a few more shots.
   "I got it."
   "How do you know?"
   "I just know."
   He took twelve pictures that day.
   Within a few days he showed me the contact sheet. "This one has the magic," he said.
   When I look at it now, I never see me. I see us. <<<

Auto-retrato, ROBERT MAPPLETHORPE (1946-1989)
>>> Site oficial de Patti Smith.
>>> Site oficial da Fundação Robert Mapplethorpe.
>>> Just Kids, National Book Award.

Saturday, October 22, 2011

Luz e sombras de Bruce Springsteen (3/3)


[1] [2] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a terceira parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro). Em baixo, um registo de 1978, com o tema The Promise, que empresta o título ao álbum de gravações inéditas, editado em simultâneo com a remasterização de Darkness on the Edge of Town.

Ao longo da década de 70, a iconografia clássica da estrela rock sofreu os mais diversos abalos. Lembremos apenas as sucessivas máscaras do camaleónico David Bowie ou a pose andrógina de Patti Smith, fotografada por Robert Mapplethorpe na capa de Horses (1975), um ícone universal de toda a história da música popular.
Na sua assumida distância, a capa de Darkness on the Edge of Town é outro exemplo carregado de simbolismo. De facto, o retrato assinado por Frank Stefanko (curiosamente, também um fotógrafo regular de Patti Smith) apresenta-nos um Bruce Springsteen alheado de qualquer conotação de vedeta. Mais tarde, o próprio Bruce viria a reconhecê-lo de modo certeiro, quando referiu que Stefanko “anulou qualquer efeito de celebridade”, deixando apenas uma “essência” que rima com o despojamento do próprio álbum.
Em boa verdade, estamos perante alguém que sempre mostrou alguma relutância face aos modos correntes de tratamento mediático. Mesmo no campo particular dos telediscos: embora haja alguns magníficos exemplos a pontuar o seu trajecto, o certo é que Bruce nunca se deu bem com a obrigação de fazer “pose”. Nessa medida, e embora não esquecendo o rigor dos seus trabalhos em estúdio, sempre se afirmou como um “animal de palco”, alguém para quem a vibração da música implica a procura obstinada (e também o desejo) de alguma audiência.
A sua aparição na capa de Darkness on the Edge of Town possui a frieza paradoxal (porque comunicativa) de uma personagem que não sabemos decifrar, mas que nos deixa uma certeza muito humana: a de que é alguém com uma história muito concreta, única e irredutível. Sendo ele um genuíno contador de histórias, podemos, talvez, concluir que todas as histórias que nos tem contado são derivações mais ou menos calculadas de uma autobiografia em suspenso.