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Friday, January 4, 2013

Em conversa: Twin Shadow (3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Twin Shadow que serviu de base ao artigo ‘Com casa em Brooklyn mas a olhar o mundo’ publicado na edição de 13 de Novembro do DN Gente.

O teledisco de Castles In The Snow foi filmado em São Paulo…
Sim foi filmado no Brasil, em São Paulo. Não tive qualquer participação criativa naquele vídeo. O Jamie Hurley era um fã. Conhecia algum do seu trabalho. Ofereceu-se para fazer um teledisco. Eu não tinha tempo para fazer um, e ele mandou aquele. É perfeito… Ele ligou-se mesmo a algo que faz parte de mim e que admiro. E captou mesmo a energia da canção.

Parece recordar figuras a caminho de um qualquer concerto no CBGB em tempos idos. Chegou a conhecer e viver aquele clube mítico, que agora é uma loja de roupa?
Estive nessa loja de roupa há dias. Ainda não tinha entrado para ver o que tinham lá dentro. É estranho. Mas gosto desta ideia de ver o mundo a avançar porque está vivo. Detesto a ideia do mundo como um museu. Daqui a 100 anos alguém fizer um museu sobre Twin Shadow e o movimento em Brooklyn em 2010… O que é que se pode fazer enquanto ainda houver espaço no mundo?... A vida vive por si. Se um lugar como o CBGB tinha de morrer porque o movimento tinha que morrer, a música tinha de morrer… Mas há algo interessante a acontecer ao virar da esquina e as pessoas devem é ansiar por isso mesmo. Em vez de pensar em quão preciso o seu passado foi.

Ou seja, entende a memória como um ponto de partida e não como um fim em si?
Não o teria dito melhor… Muita gente diz que a minha música é nostálgica e não sinto nada isso.

O que mais ouve dizer sobre a sua música? E como reage?
Estou a gostar. É espantoso… É um sonho feito realidade. Porque desde antes de ter 16 anos era o que eu queria. Espero que as pessoas falem de mim porque estejam interessadas na música. E não porque tenham um trabalho numa agência e tenham de fazer com que se fale dela. Gosto de falar com as pessoas sobre música.

É como uma paixão a partilhar?
Sem dúvida. E sendo universal, todos podemos falar sobre música. Tenho a sorte de viver numa altura onde receber um telefonema de Portugal não é invulgar. E posso falar com pessoas de lugares onde nunca estive.

E o que sente quando ouve alguém a dizer algo sobre a música que não tenha nada a ver com o que pensa dela?
Sim, há sempre isso… Não achava que ia ter tantas referências aos anos 80. Não achava que tanta gente pensasse que Morrissey era o meu herói… OK, não me importo… Pensem o que queiram… Têm essa liberdade…

Tem heróis?
Já não tenho.

Desistiu de ter heróis?
Já não acredito nessa palavra. Penso que há grandes homens e grandes mulheres, houve grandes pessoas. Mas passei muita da minha juventude a olhar para o John Lennon como cantautor e intérprete. E, como tantos, apercebi-me que era apenas um homem… Mas não sei… Mas não olho para ninguém para o encarar como herói…

Acha, por exemplo, que muitos americanos não votaram recentemente nos democratas (nas eleições intercalares) porque, eventualmente, deixaram de ver Obama como um herói?
Penso que o problema foi que ele não era na verdade um herói. É uma pessoa que está a tentar agradar a todos… Quando se tem um herói há demasiado idealismo. Acham que o super-homem os vai apanhar sempre que tenham uma queda…

Thursday, July 26, 2012

Reedição: John Lennon, Double Fantasy


John Lennon + Yoko Ono
“Double Fantasy”
Capitol / EMI Music
3 / 5

John Lennon tinha gravado, pela última vez, em 1975. Seguiram-se cinco anos de silêncio para o mundo, a sua vida voltando-se para dentro do espaço familiar. Reencontrando um rumo com Yoko Ono, assistindo ao nascimento e primeiros anos de Sean, John Lennon só voltou a mostrar sinais de vontade em regressar aos discos por alturas de umas férias nas Bahamas, em 1980. Falou primeiro num EP. Mas as canções fluíram… Seria um LP, em parceria com Yoko, cada qual criando as suas canções, arrumando-as umas junto às outras… Num sprint, Double Fantasy nasceu, revelando sinais de atenção ao seu tempo, Yoko procurando outros modos, menos experimentais, de encarar a canção, John aceitando heranças pessoais - como Elvis Presley ou Roy Orbison, que habitam entre as linhas de (Just Like) Starting Over – e procurando novas molduras para a sua muito pessoal forma de contar histórias em canções. É um disco que reflecte um espaço sorridente de vida familiar, as dedicatórias a Yoko em Dear Yoko e a Sean em Beautiful Boy (Darling Boy) sendo clara expressão de um homem feliz. Apesar dos bons momentos – Watching The Wheels e Kiss Kiss Kiss são outros episódios interessantes -, o álbum não está contudo no mesmo patamar de um Plastic Ono Band ou Imagine, o seu estatuto icónico devendo-se sobretudo ao facto de ter representado o seu último disco em vida. Lennon seria assassinado poucas semanas depois do lançamento do álbum, deixando já algumas canções para um outro disco que surgiria, mais tarde, sob o título Milk and Honey. Esta reedição limita-se a apresentar o álbum original com som remasterizado (diferente portanto da remistura que recentemente foi editada com o título Double Fantasy Stripped Down).

Wednesday, May 30, 2012

John Lennon, 30 anos depois


Esta é uma imagem da agência Reuters, publicada online pela BBC: no Strawberry Fields Memorial do Central Park (Nova Iorque), as flores dos fãs celebram a memória de John Lennon, assassinado a 8 de Dezembro de 1980 — faz hoje 30 anos.
Nas comemorações do dia, Yoko Ono disse: "Na sua curta vida de 40 anos, ele deu tanto ao mundo. O mundo teve sorte em conhecê-lo — hoje, continuamos a aprender imenso com ele." São palavras que, para além dos rituais das efemérides, condensam uma ideia muito simples, mas essencial: a memória — musical e simbólica — de Lennon possui uma energia que transcende as modas, transcende até a sua apropriação pela moda ou pela publicidade.
Eis uma montagem de fotografias de John e Yoko para a canção (Just Like) Starting Over, tema de abertura de Double Fantasy, álbum recentemente reeditado — o original surgiu poucos dias antes da morte de Lennon, a 17 de Novembro de 1980.

Friday, November 25, 2011

Para recordar John Lennon


Yoko Ono recorda John Lennon em entrevista. Este texto foi publicado na edição de 9 de Outubro do DN Gente com o título 'Unidos Por um Prego Imaginário'. A data da publicação assinalava aquele que seria o 70º aniversário do músico e o lançamento de uma série de reedições, com som remasterizado, da sua obra a solo.


O que faria hoje John Lennon se ainda fosse vivo? 70 anos, certamente, como de resto manda o calendário de quem nasceu a 9 de Outubro de 1940 (num hospital de Liverpool). E, musicalmente? "Ele teria avançado rumo aos computadores", responde sem hesitar Yoko Ono, a viúva com quem o DN falou há algumas semanas num hotel no centro de Londres, onde apresentou não apenas a série de antologias e reedições de títulos da obra de Lennon que acabam de ser editadas, como partilhou memórias da sua vida a dois com um dos ícones maiores da história da música.

Conheceram-se ainda os Beatles viviam os seus melhores dias. "Foi uma hora antes da inauguração de uma exposição minha" em Londres, recorda Yoko Ono. "Tínhamos acabado de montar tudo e disse ao dono da galeria para não deixar entrar ninguém antes da inauguração. Mas ele apareceu-me com um tipo ao lado dele. Se calhar era um amigo próximo dele e não deveria dizer nada... Entraram, desceram à cave..." Decidiu segui-los e desceu também as escadas. "Estava a uns dois metros e o dono da galeria viu que eu ali estava e disse para o John: 'Olha, esta é a artista.'" O galerista não lhe disse então o nome do convidado... "Nem o faria, porque era um Beatle", reconhece Yoko. "Mas não reparei, mesmo que ele tivesse dito John Lennon", confessa. E então falaram pela primeira vez: "O John perguntou-me se poderia pregar um prego... E eu disse que, se pagasse cinco xelins, poderia. E isso era o que eu tinha pensado na noite anterior. Ninguém iria comprar o meu trabalho, assim tinha de encontrar uma forma de me ajustar financeiramente. E pensei que poderia cobrar sempre que alguém fizesse algo. Cinco xelins... Ele então respondeu se poderia pregar um prego imaginário... E pensei, este tipo está a jogar o meu jogo... A verdade é que ele não tinha dinheiro nenhum com ele", revela. Yoko reconhece que, na altura, estava longe de conhecer bem os Beatles. "Conhecia o nome Ringo, porque quer dizer maçã em japonês. Tinha lido algo sobre os Beatles num jornal quando ainda estava no Japão. Eram uns tipos com uns penteados estranhos e muito populares. Mais nada..."

Não muito tempo depois, Yoko era presença inse-parável ao lado de John, inclusivamente entre os restantes elementos dos Beatles. Contudo, e mesmo depois de terminadas as gravações de Abbey Road, no Verão de 1969, não pensava que o fim da banda seria inevitável tão pouco tempo depois. "Não pensei que fossem acabar. Pensei que continuariam... Talvez na sua mente ele pensasse que gostaria de se tornar mais livre", comenta.


Na verdade, John Lennon iniciou uma carreira a solo ainda os Beatles editavam discos. Mas desde logo ficava clara a expressão de uma personalidade mais política que o que alguma vez havia mostrado entre os fab four. "No momento em que ele se afirmou como um indivíduo, como um autor de canções, achou que seria correcto expressar-se à sua maneira e como o desejaria fazer. Nos Beatles ele tinha de ter em conta os outros. E acho que ele teve razão em fazer as coisas como fez", explica. Hinos como Give Peace a Chance ou Xappy Xmas (War Is Over) são apenas alguns exemplos da manifestação de um espírito político cuja acção chegou inclusivamente a incomodar a administração Nixon em inícios dos anos 70. "Toda a gente o conhecia. Eu tinha ali um papel secundário. Mas penso que o facto de ele ter surgido daquela forma os terá tocado", confirma a artista.

A paz mundial estava na agenda do casal. E entre as manifestações que criaram para a tentar promover, contam-se os famosos bed-ins, nos quais John e Yoko, deitados nas suas camas de hotel, abriram as portas dos quartos, deixando entrar os jornalistas. Perante a ideia, certamente houve quem esperasse escândalo... "Ui, ficaram tão desapontados! ", graceja hoje Yoko Ono. "Acho que as pessoas se riram. Não esperávamos que se rissem", comenta. "Pensámos que sempre que fizéssemos algo em favor da paz mundial, tudo estaria diferente num ano. Que haveria paz dentro de um ano... E isso nunca aconteceu. Mas hoje sinto que 99 por cento das pessoas no mundo desejam a paz. E o um por cento que fica de fora está apenas a ser malandro. É preciso que se compreenda que somos um vastíssimo grupo de pessoas que o desejamos", alerta quase em forma de apelo. Mas, "como John o disse em tempos, esta não é a época para apenas um herói. Não posso apontar uma pessoa apenas que carregue o fardo deste incrivelmente complexo mundo. Ou seja, todos teremos de fazer qualquer coisa".

No momento em que passam 70 anos sobre o nascimento do músico (e no mesmo ano em que se assinalarão os 30 anos da sua morte), como acha Yoko que ele gostaria de ser recordado. O cantautor? O promotor da paz no mundo? O working class hero (herói da classe trabalhadora), como ele mesmo cantou? "Era tudo o que ele era, sim... Mas ele não pensava em nada disso quando trabalhava. Ele tinha apenas 40 anos", sublinha.


Nos últimos meses, a artista acompanhou pessoalmente a preparação de uma série de lançamentos que agora assinalam a data. "Estes são os 70 anos, a próxima data a assinalar deverão ser os 80" e, acrescenta, espera "ainda estar por cá". Mas sublinha que "este é o momento para fazer tudo isto pelo trabalho do John". Uma das razões pelas quais enfrentou este desafio foi mesmo "o facto de acreditar que o poder do seu espírito, a sua energia, ser algo de que precisamos agora". Yoko lembra que "as novas gerações, mas também nós, vivemos num clima de medo. E isso decorre do facto de tantas tragédias que aconteceram. Mas temos uma energia que podemos usar para mudar o mundo. E para isso o John é muito bom. Disse Gimmie Some Truth". É, explica, uma pequena observação "que traduz aquilo de que precisamos mais nestes tempos". A verdade é, diz ainda Yoko Ono, "um soro muito importante na vida. E está em falta. O John cantou sobre muitas coisas. Atreveu-se a dizer certas coisas... Arriscando mesmo a sua própria vida, de certa forma". De resto, Yoko Ono acredita que "ele teria sobrevivido se tivesse feito apenas canções bonitas. A sua atitude sobre outros assuntos fez com que algumas pessoas se irritassem".

A morte de Lennon, essa não a consegue explicar. Nem mesmo quando se lhe pergunta se leu o livro Agulha no Palheiro, de J. D. Salinger, que terá inspirado o assassino Mark Chapman, em busca de uma qualquer possível justificação. "Não faço ideia... Há pessoas que enlouquecem e matam a sua própria família... E sem razão, muitas vezes. Há muita loucura no mundo", remata.

Durante anos, Yoko Ono foi muitas vezes acusada de ter feito toda uma vida na sombra de Lennon. "Acusada de viver à sombra de um génio?", questiona. E responde: "Uma das razões pelas quais não acredito que assim seja é o facto de ter tido sempre confiança no meu trabalho. Mas havia ali uma árvore bela e uma sombra que me protegeu, e isso fez-me sentir bem."