John e Jacqueline Kennedy: um par que definiu uma época, não apenas da política, mas do imaginário romanesco do mundo ocidental. Aproximando-se o 50º aniversário da tomada de posse de John F. Kennedy como 35º Presidente dos EUA — foi a 20 de Janeiro de 1961 —, a Biblioteca e Museu que ostenta o seu nome promove uma série de iniciativas comemorativas, incluindo a abertura de um arquivo digital para consultas online. Na respectiva inauguração, que contou com a presença de Caroline Kennedy (única sobrevivente entre os filhos do casal, presidente da Fundação da Biblioteca John F. Kennedy), foi revelado o âmbito do novo arquivo, incluindo: mais de 8 milhões de páginas dos papéis pessoais e políticos de JFK; mais de 400 mil fotografias; cerca de 2,2 milhões de metros de filmes; e 1200 horas de registos em video. Recorde-se que este ano se assinala o 48º aniversário da morte de Kennedy, assassinado em Dallas, no dia 22 de Novembro de 1963.
Tuesday, August 30, 2011
Saturday, August 27, 2011
Quando o baile passou por Lisboa
Este texto de crítica ao concerto de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, foi originalmente publicado na edição de 12 de Dezembro do DN com o título ‘O Baile de Orgulho de Lady Gaga e seus Monstrinhos’.
Os números antecipados não deixaram ninguém enganado. Os números, entenda-se, das vezes que Lady Gaga mudou de roupa, dos novos temas a ser revelados ao longo do concerto, da quantidade de camiões que transportam na estrada todo o aparato cénico que transporta a Monster Ball Tour. Mas na noite de sexta- -feira, perante um Pavilhão Atlântico cheio e rendido desde bem antes da entrada em cena da rainha da noite, houve sobretudo espaço para a surpresa, que chegou na forma de uma entertainer que sabe juntar as artes do canto, da dança e da mise-en-scène a uma constante comunicação com a plateia, não perdendo nunca a oportunidade para expressar uma atitude política, mais que uma vez trazendo a Lisboa uma mensagem de firme apoio à comunidade LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgénero) que tem defendido desde os primeiros passos da sua carreira pública. De resto, e com uma recorrente enunciação de uma ideia de igualdade e integração dos excluídos (e aqui não apenas pela sua orientação sexual), Lady Gaga não deixou de mostrar porque muitos dela fizeram um ícone de absoluta referência.
Tratando os presentes como os seus "monstrinhos" e integrando a palavra Portugal em inúmeros instantes ao longo de todo o concerto, transportando até a dada altura uma bandeira portuguesa, Lady Gaga mostrou que quem a reduz a uma ideia de estrela para aparato visual e ponto final mais não faz senão expressar um preconceito mal informado.
De facto, e ao contrário de outros grandes espectáculos de grande produção do nosso tempo, ficou claro que a Monster Ball Tour não se limita a uma ideia de monumento para encher o olho. Além de uma mão-cheia de belíssimas canções pop com alma em sintonia com a pista de dança e de um conjunto de quadros cénicos (e com mais que apenas efeitos em vídeo), Lady Gaga leva a cena heranças naturais da tradição pop/rock cedendo espaço de visibilidade aos músicos (e não apenas a si mesma e aos bailarinos), ela mesma tocando piano (com uma espantosa atitude showbiz, cruzando diálogos com a plateia com a canção que nos ia apresentando) e, mais tarde, um bizarro teclado que mais parecia coisa saída de um filme de ficção-científica.

Lady Gaga é um ícone pop dos nossos dias e a Monster Ball é talhada à imagem e personalidade da figura que já inscreveu na história recente da cultura popular. É uma diva vestida a excesso e glamour, mas também a figura magoada. É brilho e luz, mas também sombra e sangue. Do jogo de contrastes nascendo uma voz que a si chama incompreendidos e diferentes, com eles partilhando o baile que, se por um lado é festa e libertação, por outro não deixa de reflectir sobre um mundo onde a noção de igualdade nem sempre é lida da mesma forma como a cantora o faz. Ela nasceu assim, como o deixou claro na hora de apresentar as cenas dos próximos capítulos em Born This Way, álbum a editar em Maio de 2011 e do qual levou a palco dois temas e uma declaração de princípios que reforça a sua forma diferente de estar na vida e música.
Sem pedir a caução da memória dos telediscos para chamar ao palco os singles que já fizeram história (evocando contudo as coreografias), apresentando uma colecção de criações de fazer inveja a muita passagem de modelos, Lady Gaga desfilou canções que são já clássicos do presente. Love Game, Just Dance, Paparazzi, Telephone ou Alejandro, terminando a noite ao som do inevitável Bad Romance. É raro vermos um artista da dimensão de uma Lady Gaga visitar-nos tão cedo na sua carreira. A boas horas a Monster Ball Tour não deixou assim Portugal excluído da mais impressionante digressão pop do presente.
Monday, August 22, 2011
Adam and the Ants, 1981

Um dos primeiros fenómenos pop da idade do teledisco, os Adam and the Ants são descendentes directos da primeira geração do punk londrino. Depois de primeiros singles que ajudaram a definir os caminhos da então chamada new wave e de um álbum de estreia que revelava uma pop com viço para ritmo e guitarras, o segundo LP, Kings Of The Wild Frontier projectou uma sequência de singles que, acompanhados por uma imagem de certa forma relacionada com o festim de excessos da contemporânea vaga neo-romântica, colocaram o grupo na primeira linha das atenções em finais de 1980. E em Janeiro de 1981, há precisamente 30 anos, este Antmusic era um dos singles em evidência na tabela dos mais vendidos da semana anterior no Reino Unido.
Adam and The Ants
'Antmusic'
Thursday, August 18, 2011
O cartaz dos Oscars
Este é o cartaz dos prémios a atribuir pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood no dia 27 de Fevereiro — o design é da responsabilidade da agência Omelet.
Será a 83ª edição dos Oscars, a realizar-se, uma vez mais, no Kodak Theatre de Los Angeles.
As nomeações serão anunciadas no dia 25 de Janeiro.
Será a 83ª edição dos Oscars, a realizar-se, uma vez mais, no Kodak Theatre de Los Angeles.
As nomeações serão anunciadas no dia 25 de Janeiro.
Tuesday, August 16, 2011
Material Glee
A série Glee envolve uma estimulante aposta na revisitação do património musical do cinema. E também na recriação de grandes referências pop — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 de Dezembro), com o título '"Glee" reinventa música de Madonna"'.
Pelo menos desde a década de 60, depois de filmes emblemáticos como West Side Story (1961), My Fair Lady (1964) ou Hello, Dolly! (1969), o grande espectáculo cinematográfico vive assombrado por uma angústia estética aparentemente sem solução: será possível refazer o fulgor clássico do género musical? Tentativas não têm faltado, algumas brilhantes, a maior parte mais ou menos desastradas. Em boa verdade, para além dos talentos envolvidos, falta algo de essencial: uma base de produção estável (como a que existiu nas décadas de 1940/50, em Hollywood), capaz de sustentar todas as componentes técnicas e artísticas que o musical exige.
Ao longo de 2010, a série televisiva Glee, do canal americano Fox, constituiu uma resposta insólita, paradoxal e, em muitos aspectos, fascinante. Retratando alunos e professores de um colégio em que a actividade musical é determinante, Glee possui essa consistência de produção (televisiva), ao mesmo tempo que aposta numa visão multifacetada das matérias musicais que, para além da mera “cópia”, sabe integrar muitos valores do património clássico.
Uma pequena obra-prima de Glee serve para ilustrar a sua peculiar energia: escrito e dirigido por Ryan Murphy (um dos criadores da série), o episódio nº15 da primeira temporada, intitulado “O Poder de Madonna”, consegue reinventar o património musical da Material Girl, ao mesmo tempo que celebra, com irónica precisão, a sua singular defesa da individualidade afectiva e sexual. A primeira difusão ocorreu, nos EUA, a 20 de Abril; entre nós, surgiu há poucos dias no canal Fox Life (que começará a emitir a segunda temporada no dia 9 de Janeiro).
Como seria inevitável, Glee passa por alguns dos clássicos com que Madonna transfigurou a paisagem da música pop, incluindo Like a Prayer, Express Yourself e Vogue, este recriado mesmo em formato de teledisco, citando, imagem a imagem, o original realizado por David Fincher [video em baixo: Jane Lynch comenta a rodagem].
Em todo o caso, o resultado está muito longe de uma mera colagem de hits: “O Poder de Madonna” funciona como uma câmara de eco da simbologia inerente ao universo de Madonna, a começar pela drástica interrogação dos (des)equilíbrios tradicionais entre masculino e feminino.
Em todo o caso, o resultado está muito longe de uma mera colagem de hits: “O Poder de Madonna” funciona como uma câmara de eco da simbologia inerente ao universo de Madonna, a começar pela drástica interrogação dos (des)equilíbrios tradicionais entre masculino e feminino.
Somos confrontados, por exemplo, com What it Feels Like for a Girl, belíssimo hino de exaltação do feminino, agora cantado por um muito (auto)crítico coro de rapazes. Além do mais, a encenação de Like a Virgin fica para a história: Glee apresenta a canção interpretada por vários pares em exuberante actividade sexual, para acabar por revelar toda a encenação como um artifício de espectáculo cujo contraponto é uma contida ausência de sexo. Sobra o quê? O medo e a sua ironia. E convenhamos que não é todos os dias que alguém tem a honestidade moral de reconhecer que o medo do sexo é essencial para compreendermos o fulgor artístico de Madonna.
Thursday, August 11, 2011
O ano de Mark Zuckerberg
"Que aconteceu? Em menos de sete anos, Zuckerberg ligou 1/12 da humanidade numa única rede, desse modo criando uma entidade social quase duas vezes maior que os EUA. Se o Facebook fosse um país, seria o terceiro maior, logo após a China e a Índia" — estas palavras de Lev Grossman condensam exemplarmente a saga do criador do Facebook: para o melhor ou para o pior, Mark Zuckerberg é uma personalidade incontornável na reconversão tecnológica das relações humanas tendo por palco este nosso inquieto século XXI. Para a revista Time, tudo isso faz dele a "Pessoa do Ano".
Monday, August 8, 2011
Black Lips com Mark Ronson
Os Black Lips vão ter Mark Ronson como produtor no seu próximo álbum de originais. Segundo a Pitchfork, o disco, por enquanto ainda sem título anunciado, terá edição pela Vice em 2011.
Wednesday, August 3, 2011
O filme inculto

Em 1982, o Tron original, de Steven Lisberger, mostrava uma visão imaginativa e coerente do que seria o mundo dos computadores onde a presença de um utilizador (um ser humano levado da nossa dimensão) desencadeava a história. Sob um conceito visual minimalista, directamente inspirado na arrumação geometrista dos circuitos integrados, juntando uma ideia de pontuações de luz como sinónimo de feixes de energia ou fluxos de informação e efeitos sonoros que vincavam a artificialidade dos espaços e movimentos e uma banda sonora assinada por Wendy Carlos, Tron somou argumentos suficientes para se transformar num dos mais importantes filmes de culto da ficção-científica dos oitentas. A notícia de uma sequela gerou assim expectativas naturais entre os admiradores do género. Mas agora, ao ver Tron – Legacy, fica claro que, além de propor uma valente montra de banalidades no comprimento de onda do cinema de acção ensopado em efeitos especiais, se transporta a herança de um filme de culto para um outro, absolutamente inculto.

Passaram mais de 20 anos. E Flynn (Jeff Bridges), o protagonista do Tron original, está há muito desaparecido. O filho, Sam, mantém-se longe da empresa de que é accionista maioritário. Uma mensagem recebida num pager leva-o ao salão de jogos do pai há muito fechado, aí descobrindo uma sala secreta onde um terminal e um laser se revelam como as expressões físicas de um portal que liga o mundo real ao digital que existe em paralelo numa outra dimensão. E, tal e qual o pai 20 anos antes, Sam acaba transportado para o mundo dos computadores. Ao chegar é confrontado com os espaços e formas de outro mundo... Como o pai segue para a rede de jogos. Mas onde antes havia uma automática transformação do corpo humano numa realidade feita de luz e formas, agora é com o auxílio de umas ajudantes (com ar de coristas de Lady Gaga) que Sam acaba com o look à la programa de computador...
O mundo digital vive assombrado por um vilão. Chama-se CLU, foi programado por Flynn para o ajudar a criar o sistema perfeito, mas depois de um golpe de estado tomou o poder. Sonha em conquistar o mundo real e, pelos vistos passa o tempo, qual imperador romano (versão Hollywood, claro), a ver jogos de computador numa grande arena, com programas de computador como espectadores, em formato de coliseu digital. Assim, com uma pitada de Roma Antiga, uma narrativa com tutano à la Frankenstein (o criado que se vira contra o criador), umas pitadas de Matrix loja dos 300, umas tiradas pechisbeque sobre literatura e misticismo barato de pacote, e muitos, muitos, muitos, efeitos especiais, Tron –Legacy mais parece uma daquelas sequências que abrem um jogo de computador (revelando gráficos e eventuais etapas do jogo) que um filme herdeiro do Tron original.

As sequelas “recentes” de Star Wars ficaram a milhas do que a memória guardava da trilogia original. Mas entre os seis filmes corria um respeito pela “mitologia” criada para sustentar a história. Em Tron – Legacy a mitologia eventualmente herdada do filme de 1982 fica-se pelo título, a ideia de um mundo paralelo, algumas formas e nomes... E pouco mais. Há até, imagine-se, um jantar com comida real no mundo virtual (no Tron original bebiam uma energia líquida qualquer, que avivava as cores dos fatos, e a malta acreditava naquilo), móveis de estilo (mas em versão modernaça a piscar o olho ao quarto da cena final do 2001 de Kubrick... ou será ao teledisco de Bad Romance?), livros de Júlio Verne e até uma discoteca com mestre de cerimónias e DJs (na verdade os Daft Punk). Que a visão do mundo digital tenha abandonado o minimalismo bidimensional do Tron de 1982 para se aproximar do que é a linguagem visual dos jogos de computador de hoje até faz sentido. Minimalista desta vez é a ideia narrativa que faz de Tron – Legacy um monumento vazio (ah, e em 3D) que não justifica a carga do nome que transporta.
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