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Monday, January 14, 2013

"Don't ask, don't tell": uma história americana

Cartoon de CHAN LOWE
Sun Sentinel (Florida)

Numa altura em que (com ou sem WikiLeaks) muitos discursos nos querem fazer ver a América como um bloco imóvel e maligno, importa sublinhar a notícia de uma recente votação (63 votos contra 33) no Senado norte-americano: assim, foi decidido pôr fim à legislação que impedia que aqueles que demonstrassem "uma propensão para tentar praticar ou envolver-se em actos homossexuais" prestassem serviço nas forças armadas dos EUA [ver, em baixo, video da CNN].
Celebrando o facto de gays e lésbicas já "não terem que se esconder", o Presidente Barack Obama resumiu o valor simbólico da decisão, lembrando: "A luta pelos direitos civis — uma luta que continua — já não precisará de incluir este."
Na prática, mesmo se os efeitos da medida só serão sensíveis daqui a alguns meses, termina assim uma atitude de ocultação e silêncio que ficou resumida na célebre expressão por que era conhecida a legislação agora anulada: "Don't ask, don't tell" (à letra: "Não perguntes, não digas"). É uma história americana que, em última instância, transcende qualquer fronteira nacional. Em boa verdade, esse é um desafio de muitas das convulsões do mundo contemporâneo: o de nos fazer viver, e pensar o nosso viver, para além do conceito clássico de nação. E também para além de qualquer visão formatada da sexualidade — aliás, das sexualidades.

Sunday, March 18, 2012

Um mundo com WikiLeaks (7)


JEFF DARCY: cartoon de The Plain Dealer / Cleveland

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1. No nosso mundo hiper-inflacionado de "informações" e "canais de informação", o WikiLeaks veio repor, não exactamente o problema filosófico da verdade, mas as atribulações dramáticas do efeito de verdade.

2. Quer isto dizer que, ao tentarmos pensar e compreender a linguagem do WikiLeaks, é acessório o facto de as suas "revelações" servirem para sustentar um discurso "pró-América" (porque o trabalho da diplomacia dos EUA estaria ameaçado) ou "anti-América" (porque os EUA teriam mentido ao mundo e, em particular, aos seus aliados) — trata-se de saber que acontece e, sobretudo, como acontece quando uma linguagem recobre o real e o hierarquiza em função de uma dicotomia "verdade/mentira".

3. Temos assistido, assim, a um frequente efeito exponencial: as informações divulgadas são automaticamente tratadas como um juízo de valor político, mesmo quando a sua "verdade" era mais ou menos implícita, para não dizer banalmente conhecida.

4. Na prática, isto significa que a própria informação surge desvirtuada, expurgada de qualquer discurso ou contexto, para ser reduzida a um pueril efeito de verdade — porque era informação, e porque estava oculta, a sua exposição pública só pode ser concebida como um passe mágico de verdade, e em direcção à verdade.

5. Num mundo de tantas e tão gratuitas formas de "personalização", este imaginário da verdade implica um esvaziamento mais do indivíduo e da sua possibilidade de pensar: "sou informado, logo existo" — eis o lema infantil de quase todas as zonas do nosso espaço mediático. Escusado será acrescentar que o próprio jornalismo passa a ser convocado para funcionar como um mero torniquete de informações, sem recuo, sem pensamento. E sempre contra algo ou alguém — porque este é um imaginário sem capacidade de confronto, apenas indutor de conflito.

Saturday, February 25, 2012

Prémios do Cinema Europeu... como?


Esta é a sala da capital da Estónia onde se vai realizar a cerimónia dos 23ºs Prémios do Cinema Europeu, um evento quase ignorado pela... Europa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 de Novembro), com o título 'Que prémios do cinema europeu?'.

No próximo sábado (4 de Dezembro), no Nokia Concert Hall [foto] de Tallinn, capital da Estónia, realizar-se-á a 23ª cerimónia dos Prémios do Cinema Europeu. Promovidos pela Academia de Cinema Europeu, são muitas vezes referidos como os “Oscars” da Europa. Dito de outro modo: pelo menos no plano simbólico, são os mais importantes na dinâmica da produção cinematográfica europeia. Em todo o caso, a designação envolve uma dramática ironia. De facto, vale a pena perguntar: nos últimos tempos, quantas referências informativas já vimos a estes prémios?
Em boa verdade, a cobertura jornalística dos prémios europeus (antes e depois da sua realização) é sempre muito escassa. Basta repararmos no contraste com o que está a acontecer há várias semanas em torno dos Oscars (marcados apenas para 27 de Fevereiro de 2011): na prática, começaram a proliferar notícias e especulações sobre candidatos. Há mesmo todo um estilo jornalístico, com grande representação na Internet, que menospreza tudo o que tenha a ver com cinema europeu, ao mesmo tempo que celebra as mais anedóticas peripécias de Hollywood (não poucas vezes, fazendo coexistir tudo isso com o mais primário anti-americanismo político).
Escusado será dizer que nenhum pretexto, nem mesmo as feridas interiores do cinema europeu, justifica que minimizemos a fascinante energia criativa do actual cinema americano. Do mesmo modo, seria pura demagogia atribuir os problemas de divulgação da produção europeia apenas às vertentes mais medíocres do trabalho jornalístico. A questão de fundo (e tem pelo menos 23 anos...) é a extrema dificuldade que as estruturas europeias do cinema revelam na promoção dos seus próprios valores e produtos.
Claro que, para além das singularidades políticas de cada país, nada disto pode ser desligado de uma ideia fraca (politicamente fraca, antes do mais) que quase ninguém quer enfrentar: a noção corrente de “cinema europeu” é tanto mais inoperante quanto não corresponde a nada de economicamente forte e consolidado. É espantoso, aliás, como se continua a acreditar que é possível promover os filmes europeus por razões “patrióticas”, sem discutir, de forma séria e construtiva, o poder de algumas empresas americanas nos mercados europeus.
Dito isto, convirá não esquecer que O Escritor Fantasma, de Roman Polanski [foto], surge como o título mais forte entre os candidatos, com sete nomeações, incluindo melhor filme, melhor realizador e melhor actor (Ewan McGregor). Polanski já foi, aliás, homenageado pela Academia de Cinema Europeu, tendo recebido em 2006 o prémio de carreira. E porque é salutar pensar as contradições do cinema também através dos seus muitos cruzamentos, convém lembrar que, apesar de impedido de entrar nos EUA, Polanski recebeu o Oscar de melhor realizador de 2002, com o filme O Pianista.

>>> Site dos Prémios do Cinema Europeu.
>>> Site da Academia de Cinema Europeu.

Thursday, February 2, 2012

Clint Eastwood fora dos Oscars?


Estreado em Outubro nos EUA, Hereafter, de Clint Eastwood [cartaz britânico], não tem surgido na temporada de prémios, muitos menos nas "previsões" para os Oscars. Não vale a pena entrar nesse jogo de "ganha/não ganha" que transforma metade da Net, e festivas páginas da blogosfera, em câmara de eco do marketing dos próprios estúdios... Em todo o caso, é um apagamento, no mínimo, desconcertante. Para já, digamos apenas que poucas vezes pudemos sentir assim o cinema a filmar a morte no trabalho. E que para nós ficará, por certo, como um dos acontecimentos maiores do ano de 2011 — estreia nas salas portuguesas a 20 de Janeiro, com o título Outra Vida.

>>> Site oficial de Hereafter.

Friday, December 23, 2011

David Fincher premiado pelos críticos de Nova Iorque


David Fincher e o seu filme sobre o nascimento do Facebook, A Rede Social, dominaram os prémios do National Board of Review of Motion Pictures, organização de Nova Iorque, tradicionalmente reconhecida como uma das mais importantes do jornalismo crítico dos EUA. Além do prémio de melhor filme do ano, A Rede Social foi ainda distinguido nas categorias de melhor realizador, melhor actor (Jesse Eisenberg) e melhor argumento adaptado (Aaron Sorkin). A lista completa dos premiados está disponível no site da NBR.

Wednesday, December 7, 2011

Na era digital...

Discografia Kraftwerk - 29
'Musique Non Stop' (single), 1986



Fruto de um processo longo (que determinaria inclusivamente um desfecho inesperado para o álbum que editariam em 1986) os Kraftwerk saíram do um silêncio de quase três anos que se seguiu à edição do single Tour de France com um cartão de visita para um novo álbum que revelava um ascetismo minimalista como nunca antes a sua música conhecera. Editado em single a poucos dias do lançamento de Electric Cafe, Musique Non Stop revelava um som quase despido à essência da sua matriz rítmica, pontuais notas definindo uma ténue sugestão de melodia. O single não repetiu a carreira de sucesso de algumas canções de anos recentes, mas atingiu o número um na tabela de música de dança nos EUA.



Imagens do teledisco de Musique Non Stop, explorando uma ideia de construção digital que vinca uma noção de desmaterialização e, ao mesmo tempo, de secundarização do músico (o ser humano) perante a sua criação artística.

Monday, September 5, 2011

Em directo, para o grande ecrã

A Los Angeles Philharmonic, que nos visitou este fim de semana, vai iniciar este ano um programa de transmissões de concertos seus para salas de cinema (para já apenas nos EUA e Canadá). Ao todo serão 450 os ecrãs a ver Gustavo Dudamel a dirigir a orquestra em obras de Beethoven, Brahms e Tchaikovsky.

Tuesday, August 30, 2011

JFK — memórias com 50 anos


John e Jacqueline Kennedy: um par que definiu uma época, não apenas da política, mas do imaginário romanesco do mundo ocidental. Aproximando-se o 50º aniversário da tomada de posse de John F. Kennedy como 35º Presidente dos EUA — foi a 20 de Janeiro de 1961 —, a Biblioteca e Museu que ostenta o seu nome promove uma série de iniciativas comemorativas, incluindo a abertura de um arquivo digital para consultas online. Na respectiva inauguração, que contou com a presença de Caroline Kennedy (única sobrevivente entre os filhos do casal, presidente da Fundação da Biblioteca John F. Kennedy), foi revelado o âmbito do novo arquivo, incluindo: mais de 8 milhões de páginas dos papéis pessoais e políticos de JFK; mais de 400 mil fotografias; cerca de 2,2 milhões de metros de filmes; e 1200 horas de registos em video. Recorde-se que este ano se assinala o 48º aniversário da morte de Kennedy, assassinado em Dallas, no dia 22 de Novembro de 1963.

Thursday, August 11, 2011

O ano de Mark Zuckerberg


"Que aconteceu? Em menos de sete anos, Zuckerberg ligou 1/12 da humanidade numa única rede, desse modo criando uma entidade social quase duas vezes maior que os EUA. Se o Facebook fosse um país, seria o terceiro maior, logo após a China e a Índia" — estas palavras de Lev Grossman condensam exemplarmente a saga do criador do Facebook: para o melhor ou para o pior, Mark Zuckerberg é uma personalidade incontornável na reconversão tecnológica das relações humanas tendo por palco este nosso inquieto século XXI. Para a revista Time, tudo isso faz dele a "Pessoa do Ano".

Friday, June 10, 2011

À espera de Jim Carrey


Jim Carrey é um daqueles nomes capazes de sustentar um filme, garantindo o seu lançamento automático e célere... Será? O caso de I Love You Philip Morris, em que contracena com o também magnífico Ewan McGregor, conta uma história um pouco diferente.
Notável comédia sobre um amor homossexual, questionando ponto por ponto todos os clichés (cinematográficos, morais, etc.) que o tema poderia suscitar, o filme esteve presente há mais de um ano e meio, em Maio de 2009, no Festival de Cannes. Depois, foi surgindo um pouco por toda a parte, incluindo Portugal (em Abril de 2010, com o título Eu Amo-te Philip Morris), mas permanecendo inédito nos EUA [notícia no site Deadline].
Na prática, julga-se que o universo temático do filme terá gerado algumas resistências. Em todo o caso, o certo é que sucessivos conflitos produção/distribuição contribuíram para esta espera de quase dois anos (a primeira apresentação de I Love You Philip Morris ocorreu em Janeiro de 2009, no Festival de Sundance). É uma história que se pode resumir entre os dois cartazes aqui reproduzidos: à esquerda, o de Cannes; à direita, o do actual lançamento americano. Ironia complementar: nos próximos Oscars, Jim Carrey pode vir a ser um candidato muito sério à nomeação para melhor actor.