Monday, October 31, 2011

Figuras do ano: Tilda Swinton


Não faltaram já, ao longo da sua obra, motivos para, justificadamente, fazer de Tilda Swinton uma das grandes actrizes do nosso tempo. Este ano apresentou-nos contudo uma das melhores interpretações de toda a sua carreira num filme que, de resto, conta também com a sua intervenção como co-produtora. No papel de uma matriarca em Milão (de origem russa) e com todas as falas num claro italiano, Tilda Swinton contribuiu para fazer de Eu Sou O Amor um dos maiores acontecimentos cinematográficos do ano.

Friday, October 28, 2011

Perfume Genius (aromas extra)


O álbum de estreia de Perfume Genius vai conhecer uma nova edição na próxima semana, juntando três novos temas ao alinhamento. Learning, um dos grandes discos de 2010, surge assim num formato de CD com um cupão que permite o download de três novas canções, com os títulos Dreeem, Your Drum e Divine Faxes. Esta é a capa desta nova edição do disco.

Wednesday, October 26, 2011

Século XXI — ser ou não ser (1/2)

De uma representação de Hamlet, pela Saratoga Shakespeare Company

Na sua edição de 5 de Dezembro, a revista "Notícias Magazine", do Diário de Notícias, foi dedicada às ideias que dominaram a primeira década do século XXI, organizadas a partir de nove temas: Ambiente / Crise / Redes Sociais / Mulher / Justiça / Eu / Terrorismo / Genoma — esta é a primeira parte do texto que escrevi, para ilustrar o tema "Eu", com o título 'Depois do apocalipse'.

A 15 de Maio de 1871, numa célebre carta ao seu amigo Paul Demeny, o francês Arthur Rimbaud condensou a sua solidão criativa numa expressão que se transformaria numa espécie de lema existencial para o homem do século XX: “Eu é um outro.”
De que falava, afinal, o poeta? Celebrando a necessidade de lidar com “todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura”, Rimbaud atribuía ao poeta (“Poeta”) um radical programa de sofrimento: “Inefável tortura em que ele tem necessidade de toda a fé, de toda a força sobre-humana, em que entre todos se transforma no grande doente, no grande criminoso, no grande maldito — e no supremo Sábio.”
No século XXI, já não há poetas malditos. Nem solidões radicais. Mas temos o Facebook e a sua estonteante glória: mais de 500 milhões de pessoas inscritas numa rede de “amigos” (espantosa banalização de uma palavra que já teve o valor sagrado de uma raridade) que lhes garante que o seu “eu” está sempre em ligação com algum “outro”.
Na página de entrada do Facebook , um austero mapa do mundo, habitado por uma série de rudimentares figurinhas humanas, sugere infinitas ligações entre as suas personagens. Qual a distância entre o estudante universitário de Harvard, fechado no quarto, e o pastor errante na imensidão das planícies da Mongólia? Entre o esquimó recolhido no seu iglô e o africano à procura do último santuário dos elefantes? Nenhuma… Click! E estamos do outro lado do planeta! Ou, pelo menos, protagonizamos a ilusão de viajar num mapa virtual.
Acabou-se, assim, a angústia do “ser ou não ser” do Príncipe da Dinamarca: o outro é, agora, apenas uma variante electrónica do meu eu. Entrámos na idade do narcisismo sem culpa. E se alguém evocar as lições cruéis de Sigmund Freud (ele que trabalhou a difícil herança de Rimbaud, enfrentando os medos e fantasmas do nosso século XX), corre o risco de passar por estúpido e pretensioso. Ou apenas de cometer o pecado de estar offline. Nas auto-estradas da informação, Shakespeare [imagem] viu-se coagido a mudar de emprego: estar ou não estar online, eis a questão.
Não admira que, socialmente, nos ofereçam todos os dias os mais variados privilégios desse “abre-te Sésamo!” contemporâneo que é a personalização. Tudo, mas mesmo tudo, passou a ser personalizado: os gadgets do automóvel, o desenho da mobília, as compras do supermercado... O telemóvel, essa pedra preciosa da comunicação, instalou-se no nosso quotidiano como o objecto supremo da personalização. E tanto mais quanto, todos os dias, alguma marca nos lança à cara mais uma promoção que garante mais possibilidades de ligação por melhor preço.
A tragédia íntima do nosso viver futurista desenha-se aí: somos educados apenas para desejar cada vez mais circuitos de informação, mas já quase não se pensa que informação circula e, sobretudo, o que fazemos com ela. O adolescente online faz mesmo gala em coleccionar mais faixas de música do que aquelas que a sua existência mortal alguma vez lhe permitirá escutar. Isto para já não falarmos do facto de os ruídos das linguagens dominantes (a começar pela publicidade televisiva) nos terem feito esquecer que saber escutar é uma arte eminentemente humana, sem a qual nenhuma partilha é possível.

[continua]

Saturday, October 22, 2011

Luz e sombras de Bruce Springsteen (3/3)


[1] [2] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a terceira parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro). Em baixo, um registo de 1978, com o tema The Promise, que empresta o título ao álbum de gravações inéditas, editado em simultâneo com a remasterização de Darkness on the Edge of Town.

Ao longo da década de 70, a iconografia clássica da estrela rock sofreu os mais diversos abalos. Lembremos apenas as sucessivas máscaras do camaleónico David Bowie ou a pose andrógina de Patti Smith, fotografada por Robert Mapplethorpe na capa de Horses (1975), um ícone universal de toda a história da música popular.
Na sua assumida distância, a capa de Darkness on the Edge of Town é outro exemplo carregado de simbolismo. De facto, o retrato assinado por Frank Stefanko (curiosamente, também um fotógrafo regular de Patti Smith) apresenta-nos um Bruce Springsteen alheado de qualquer conotação de vedeta. Mais tarde, o próprio Bruce viria a reconhecê-lo de modo certeiro, quando referiu que Stefanko “anulou qualquer efeito de celebridade”, deixando apenas uma “essência” que rima com o despojamento do próprio álbum.
Em boa verdade, estamos perante alguém que sempre mostrou alguma relutância face aos modos correntes de tratamento mediático. Mesmo no campo particular dos telediscos: embora haja alguns magníficos exemplos a pontuar o seu trajecto, o certo é que Bruce nunca se deu bem com a obrigação de fazer “pose”. Nessa medida, e embora não esquecendo o rigor dos seus trabalhos em estúdio, sempre se afirmou como um “animal de palco”, alguém para quem a vibração da música implica a procura obstinada (e também o desejo) de alguma audiência.
A sua aparição na capa de Darkness on the Edge of Town possui a frieza paradoxal (porque comunicativa) de uma personagem que não sabemos decifrar, mas que nos deixa uma certeza muito humana: a de que é alguém com uma história muito concreta, única e irredutível. Sendo ele um genuíno contador de histórias, podemos, talvez, concluir que todas as histórias que nos tem contado são derivações mais ou menos calculadas de uma autobiografia em suspenso.

Wednesday, October 19, 2011

Nomeações dos Grammys reveladas

Eminem lidera as nomeações para a edição deste ano de entrega dos Grammys. Soma um total de dez nomeações, seguido de Bruno Mars com sete e Lady Gaga, Jay Z e o grupo Lady Antebellum com seis. Uma das surpresas das nomeações é o facto dos Arcade Fire surgirem entre os candidatos a Álbum do Ano.

Lista completa de nomeados aqui.

Sunday, October 16, 2011

Uma noite pela avenida


Uma mesma rua, várias salas, concertos mais ainda. Na sua terceira edição o Super Bock em Stock pode não ter um cartaz com tantos nomes imediatos, mas o modelo voltou a fazer da Avenida da Liberdade um corredor vivo de gente a circular com entusiasmo entre acontecimentos. Entra-se, gosta-se e fica-se. Ou segue-se para outra sala ali perto… A rotina faz-se da vontade do momento, entre reencontros e descobertas. Ficam quatro retratos rápidos.

Owen Pallett – Na elegante sala do Tivoli a sua música consegue ocupar um palco onde nada mais acontece senão a sua presença e som. Domina as artes do palco, cria empatia. Passa por Caribou. É sempre um bom reencontro.


B Fachada – Informal em palco mesmo na hora de figurar num dos palcos principais (no São Jorge, mais precisamente). Acompanhado a dada altura por Sérgio Godinho. O par em bom diálogo, a versão de Etelvina contudo sem resistir (na leitura apresentada) à anemia da falta da electricidade face à versão original. Canções do novo disco pedem, para já, mais audições.

Kele – O álbum oscila entre o electro e a evocação de modelos da canção pós-punk. Em palco opta pela força das electrónicas e põe um Tivoli inteirinho a dançar. Tenderoni irresistível. Com Bloc Party a meio da ementa, o concerto acabou por ser inesperada boa surpresa.

Wavves – Ao fim da noite, na Garagem no Marquês de Pombal. O som não era o melhor, de facto, mas ajudou a desarrumar o som das mais arrumadas canções do disco mais recente.

Wednesday, October 12, 2011

Para ouvir em 2011: The Naked and the Famous


Continuamos a visitar nomes para escutar com atenção em 2011. Hoje damos a volta ao mundo para escutar os Naked and the Famous. Chegam da Nova Zelândia e muitas das opiniões já publicadas sobre a sua música usam os MGMT como comparação, na sua face mais pop e dançável, entenda-se. Aqui fica o teledisco que acompanhou o recente Punching In a Dream.

Saturday, October 8, 2011

E assim nasce um clássico

Discografia Kraftwerk - 26
'The Model' (single), 1981



Em finais de 1981, e com o volume de atenções de algumas estações de rádio no tema incluído no lado B do single Computer Love, uma decisão editorial trocou a ordem de apresentação das canções. E, com apenas breves ajustes no grafismo da capa, eis que surgia como Lado A de um single o tema The Model, na verdade originalmente lançado no alinhamento do álbum The Man Machine, de 1978. O single foi acolhido com entusiasmo, chegando inclusivamente a atingir o número um no Reino Unido já em 1982. No Lado B surgia, consequência da troca de alinhamento, o tema Computer Love.

Wednesday, October 5, 2011

Para ouvir em 2011: Jai Paul


Chama-se Jai Paul e é outra das grandes promessas para 2011. Londrino de 21 anos, cruza pistas neon soul com um interesse pela exploração de novas electrónicas e, tal como em James Blake e Jamie Woon, um interesse pelos limites do silêncio. Apadrinhado a início por Giles Peterson, está hoje na XL Recordings, que deverá lançar este ano o seu álbum. Para já tem como cartão de visita este BTSTU.

Podem ouvir esta música aqui

Sunday, October 2, 2011

Acontecimentos do ano: Óperas do Met em HD


Uma das grandes novidades da temporada de música 2010/2011 da Gulbenkian assinalou a entrada de Lisboa no circuito de cidades (e são já mais de 40) que, pelo mundo fora, assistem às óperas do Met, em Nova Iorque, em transmissões em directo em alta definição. A programação abriu com um soberbo Ouro do Reno.