Sunday, June 26, 2011

A defesa do cineasta iraniano Jafar Panahi


A condenação do cineasta iraniano Jafar Panahi está a suscitar um profundo movimento de indignação e protesto na comunidade cinematográfica internacional.
Na Internet, está disponível uma petição ("O cineasta Jafar Panahi não deve voltar para a prisão"), protestando contra a perseguição de que é alvo, recordando que "o poder iraniano pôs a funcionar uma verdadeira máquina de guerra visando destruí-lo, encerrá-lo e constrangi-lo ao silêncio" e apelando à mobilização de "cineastas, actores e actrizes, argumentistas e produtores, todos os profissionais de cinema, bem como todos os homens e mulheres defensores da liberdade e para quem os direitos do homem são fundamentais". Entre os patrocinadores da petição, incluem-se os festivais de Cannes e Locarno, a Cinemateca Francesa e as revistas Positif e Cahiers du Cinéma. Nos EUA, várias personalidades de Hollywood, incluindo Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Robert Redford e Martin Scorsese, juntaram também a sua voz à exigência de liberdade para Panahi.
Serge Toubiana, director-geral da Cinemateca Francesa, publica no seu blog um documento a que teve acesso, transcrevendo o discurso de defesa de Panahi perante os seus juízes. São desse discurso as seguintes palavras:

>>> "(...) eu, Jafar Panahi, declaro solenemente que, apesar dos maus tratos que ultimamente recebi no meu país, sou iraniano e quero viver e trabalhar no Irão. Amo o meu país e já paguei o preço desse amor. Em todo o caso, tenho outra declaração a acrescentar à primeira: sendo os meus filmes as minhas provas irrefutáveis, declaro acreditar profundamente no respeito dos direitos dos outros, na diferença, no respeito mútuo e na tolerância. É a tolerância que me impede de julgar e odiar. Não odeio ninguém, nem mesmo os meus interrogadores porque reconheço a minha responsabilidade em relação às gerações do futuro."

Wednesday, June 22, 2011

Figuras do ano: Lady Gaga


Em recta final da Monster Ball Tour (que recentemente passou por Lisboa), Lady Gaga conclui um ciclo iniciado com a edição do seu álbum de estreia e que, em dois anos, de si fez um caso de popularidade planetária. Como deixou claro na actuação lisboeta, nem só de música, imagens e criações de moda vive a sua agenda, uma clara política de causas não tendo nunca deixado de a acompanhar. Sobretudo na luta pelos direitos da comunidade LGBT e pela expressão da identidade de cada um.

Friday, June 17, 2011

E era uma vez o rock em Portugal...

Ciclo 45 RPM – 1
Os Conchas / Daniel Bacelar

“Caloiros da Canção”

Alvorada, 1960



Ano novo, novo ciclo por estes lados. Ao longo das próximas semanas vamos aqui recordar alguns dos 45 rotações que ajudaram a escrever a história da música popular portuguesa.

Corria o mês de Outubro de 1960 quando chegava a disco, pela primeira vez, o som de uma banda pop/rock portuguesa. Chamavam-se Os Conchas e estreavam-se com duas músicas numa das faces de um EP que nascia directamente de um concurso de talentos. No EP Caloiros da Canção os Conchas apresentavam uma versão de Oh Carol, de Neil Sedaka e Quero o Teu Amor, na verdade não mais senão uma canção dos Everly Brothers. No outro lado do EP apresentava-se Daniel Bacelar. Não tinha participado no concurso mas era desde logo apontado como uma revelação. Muitas vezes descrito como o Ricky Nelson português, Daniel Bacelar estreava-se em disco com dois inéditos de sua autoria.

Tuesday, June 14, 2011

Sob o signo de Tati

O MÁGICO (2010)

Tendo como ponto de partida um argumento que Jacques Tati (1907-1982) escreveu mas não filmou, O Mágico, de Sylvain Chomet, é uma pequena pérola da animação cinematográfica — para mais, conservando, no essencial, uma nostálgica fidelidade ao tradicional desenho à mão. A história amarga e doce do ilusionista sempre estranho às rotinas do quotidiano evoca, de forma muito directa os temas de Tati e, mais do que isso, a sua iconografia cinematográfica. Vale a pena revisitarmos algumas das suas imagens, em particular os cartazes dos clássicos em que Tati interpretou o inesquecível Sr. Hulot.

AS FÉRIAS DO SR. HULOT (1953)

O MEU TIO (1958)

TRAFIC / SIM, SR. HULOT (1971)

PLAYTIME (1967)

Friday, June 10, 2011

À espera de Jim Carrey


Jim Carrey é um daqueles nomes capazes de sustentar um filme, garantindo o seu lançamento automático e célere... Será? O caso de I Love You Philip Morris, em que contracena com o também magnífico Ewan McGregor, conta uma história um pouco diferente.
Notável comédia sobre um amor homossexual, questionando ponto por ponto todos os clichés (cinematográficos, morais, etc.) que o tema poderia suscitar, o filme esteve presente há mais de um ano e meio, em Maio de 2009, no Festival de Cannes. Depois, foi surgindo um pouco por toda a parte, incluindo Portugal (em Abril de 2010, com o título Eu Amo-te Philip Morris), mas permanecendo inédito nos EUA [notícia no site Deadline].
Na prática, julga-se que o universo temático do filme terá gerado algumas resistências. Em todo o caso, o certo é que sucessivos conflitos produção/distribuição contribuíram para esta espera de quase dois anos (a primeira apresentação de I Love You Philip Morris ocorreu em Janeiro de 2009, no Festival de Sundance). É uma história que se pode resumir entre os dois cartazes aqui reproduzidos: à esquerda, o de Cannes; à direita, o do actual lançamento americano. Ironia complementar: nos próximos Oscars, Jim Carrey pode vir a ser um candidato muito sério à nomeação para melhor actor.

Sunday, June 5, 2011

Listas e mais listasRolling Stone


Mais uma lista de álbuns do ano. Hoje a veterana revista Rolling Stone, da qual apresentamos os dez mais da sua tabela de melhores álbuns do ano.

1 – Kanye West “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”
2 – The Black Keys “Brothers”
3 – Elton John + Leon Russell “The Union”
4 – Arcade Fire “The Suburbs”
5 – Jamey Johnson “The Guitar Song”
6 – Vampire Weekend “Contra”
7 – Drake “Thank Me Later”
8 – Robert Plant “Band Of Joy”
9 – Eminem “Recovery”
10 – LCD Soundsystem “This Is Happening”

Thursday, June 2, 2011

Novas edições: Anna Calvi, Anna Calvi


Anna Calvi
“Anna Calvi”

Domino / Edel

5 / 5


O ano não podia começar de melhor maneira! Chama-se Anna Calvi, correu em tempos pelos circuitos nu-folk londrinos, mas descobriu um caminho num espaço que tanto herda de tradições clássicas da cultura pop/rock como de um sentido de elaboração cénica que mais parece coisa do mundo do cinema. De resto, e além dos rasgados elogios (plenamente justificados) de Brian Eno, um dos seus admiradores de primeira hora, o desfile de nomes que temos visto associados a textos sobre Anna Calvi vai de figuras tutelares como as de Pattti Smith ou PJ Harvey (todavia sem a alma poética da primeira) a respeitáveis realizadores como David Lynch ou Wong Kar-Wai. Referências em tudo certeiras, acrescente-se. O álbum que apresenta um dos nomes apontados em várias frentes a merecer atenções em 2011 não só dá plena razão em quem depositou expectativas em Anna Calvi como nos mostra um daqueles raros discos de estreia que parecem mais que um promissor programa de intenções. As canções não são apenas exemplos de composição de aprumada carpintaria como se mostram formalmente moldadas a uma ideia que serve em plenitude as capacidades dramáticas de uma voz que ecoa heranças de Patti Smith, PJ Harvey ou Siouxsie Sioux e faz corar de vergonha as alminhas góticas de pré-primária que a maré de inconsequente revivalismo gótico tem revelado nos últimos tempos. A música de Anna Calvi revela horizontes vastos, espreitando além das cercanias próximas as genéticas da música eléctrica e integrando elementos que expressam um sentido de espaço, definindo sugestões de ambiente e cenografia com afinidades ao que encontramos, por exemplo, no cinema de um David Lynch. As sombras que intrigam, a escuridão que se anuncia, habitando em torno de uma voz que liberta a luz mas habita não muito distante de uma cativante penumbra que não se explica mas sente. Em dez canções (a soma “clássica”) Anna Calvi apresenta-se com invulgar segurança para quem dá os primeiros passos. E tem em Anna Calvi o cartão de visita certo para desde já inscrever o seu nome entre os acontecimentos do ano.