 Duran Duran
Duran Duran
"All You Need Is Now"Skin Divers / iTunes
4 / 5Se é lícito que aos Rolling Stones se elogie, e com razão, o “back to the basics” que ditou os rumos do mais recente 
A Bigger Bang ou, a David Bowie, o que o devolveu aos caminhos de um 
Hunky Dory nos dias de 
hours... ou mesmo, a Madonna, o reencontro com a "sua" Nova Iorque dos oitentas em 
Confessions On A Dance Floor, porque não aplicar a mesma lógica aos Duran Duran no momento em que, 28 anos depois, finalmente apresentam um disco que os devolve aqueles que foram os momentos que confirmaram a definição das linhas mestras da sua identidade. Ou seja, ao soberbo 
Rio, álbum de 1982 frequentemente apontado como a obra-prima do grupo (estatuto que, na verdade, deveria ser repartido com o não menor álbum de estreia, de 1981, outro daqueles raros discos cujo alinhamento não revela um único passo ao lado). Para um grupo que, apesar dos altos e baixos, e das alterações que conheceu internamente depois de 1985 (até ao reencontro da formação original e, entretanto, a estabilização no 
line up a quatro nos últimos anos), nunca na verdade deixou de se manter activo (e ao contrário de tantos outros seus contemporâneos nunca optando por estratégias de mera capitalização do poder na nostalgia “quarentona”), os Duran Duran são um raro caso de sobrevivência criativa entre as bandas da sua geração. Tal como o sucesso os brinda em ciclos, uns mais favoráveis, outros nem por isso, também as ideias parecem caminhar entre as melhores e as menos inspiradas nas horas de gravar discos. E ao longo dos anos pós-duranmania (período de triunfo global entre 1981 e 85) tanto nos deram o pior (
Liberty, de 1990 ou 
Pop Trash, de 2000) como o melhor (
Medazzaland, de 1997 ou 
Red Carpet Massacre, de 2007), estes dois últimos discos, por razões distintas, representando contudo casos em que o sucesso não reconheceu o seu potencial. 
Medazzaland, de 1997, foi o mais “alternativo” dos discos do grupo na década dos noventas em que uma nova geração neles encontrava uma banda apontada pelo dedo por admiradores como Billy Corgan (Smashing Pumpkins) ou Courtney Love (Hole). Mas chegou numa altura de desentendimentos e consequente divórcio com a editora que os acompanhara desde o início, o álbum não chegando sequer a ser editado na Europa. 
Red Carpet Massacre, onde colaboravam Timbaland ou Justin Timberlake revelava uma aproximação às linguagens pop da década dos zeros, traduzindo ainda uma antiga relação com ecos do 
rhythm’n’blues que sempre habitaram a música dos Duran Duran (com expressão maior em 
Notorious, de 1986). Contudo, à errada escolha de single de apresentação juntou-se um surdo silêncio na hora de se esperar o segundo (e certo) single (que deveria ter sido 
Nite Runner), o álbum acabando mais perto do massacre que da passadeira vermelha... Longe de uma grande editora, o 13º álbum dos Duran Duran chega agora sob uma expectativa criada mês após mês ora através de clips ‘making of’ postados na Internet, ora pelo entusiasmo com que Mark Ronson, o produtor, ia descrevendo os trabalhos, a ele cabendo a frase que apontava o disco como o sucessor de 
Rio que nunca havia sido criado. Agora que ouvimos o álbum não podemos senão dar razão a Mark Ronson. Aspesar da angulosidade contemporânea do tema-título, da recontextualização pop uma alma mais ‘disco’ em 
Safe (In The Heat Of The Moment) e de quase descarrilar no menos inspirado 
Leave A Light On, o tutano de 
All You Need Is Now é puro Duran Duran. 
Vintage nas referências colhidas na sua memória, o irresistível 
Blame The Machines retomando o viço de um 
Hungry LIke The Wolf (se bem que em regime mais electrónico que eléctrico), o belo 
The Man Who Stole A Leopard continuando a história onde 
The Chauffeur a deixara nas últimas notas de 
Rio... Pelo caminho há ainda novos sinais de uma antiga (boa) relação com uma noção de pop luminosa e dançável em canções como 
Being Followed, Runaway Runaway ou 
Girl Panic e uma sumptuosa balada (sem contudo os excessos de maquilhagem de estúdio dos dias de 
Seven and The Ragged Tiger) em 
Before The Rain... Guitarras e electrónicas em diálogo, melodias feitas de luz e alma pop, detalhes de filigranas para teclas e cordas (cortesia Nick Rhodes) e, cereja sobre o bolo, refrões que ninguém poderá dizer que não são “classic” Duran Duran. Com um alinhamento de nove canções (como o de Rio), sabendo-se que haverá três temas adicionais na edição física (em CD e vinil) esperada a 2 de Fevereiro, 
All You Need Is Now pode não repetir as ousadias de 
Medazzaland ou 
Red Carpet Massacre, apostando claramente no reencontro com ecos de uma genética que, na verdade, é a sua. Mas traz a melhor colecção de canções dos Duran Duran desde os dias de 
Rio. Mark Ronson tinha mesmo razão!