Saturday, December 31, 2011

Não bem é uma canção de Natal...


Chamam-se Golden Filter, editaram um álbum há alguns meses e acabam de propor um EP para o qual gravaram uma versão de White Nights, um original dos Psychic TV. Aqui fica o teledisco.

Tuesday, December 27, 2011

O choque do presente


Tal como na música cada vez mais estão esbatidas as antigas fronteiras entre géneros, também no cinema as linguagens tendem hoje a diluir-se entre si. Tal como em Atanarjuat – O Corredor, de Zacharias Knut, em Tulpan cruzam-se pontos de vista. Mas, e mesmo seguro de uma linha narrativa de ficção que o suporta, Tulpan não esconde um olhar assinado por quem, até aqui, ao olhar o mundo com uma câmara, o projectava na forma de documentários.


Sergey Dvortsevoy, natural do Cazaquistão, tem já uma obra repartida entre curtas e médias-metragens, e um currículo que conta com prémios em festivais de cinema documental em Leipzig ou Lyon. Tulpan, que na passada semana estreou entre nós (e passou numa das edições anteriores do Estoril Film Festival) foca o seu olhar no espaço fisicamente desolado da estepe cazaque, tomando como centro de gravidade uma família nómada que cria ovelhas e dois jovens em plena idade dos sonhos. Asa está de regresso depois de cumprido o serviço militar na marinha e sabe que só terá o seu rebanho de ovelhas depois de casar. Tulpan é a mulher com quem sonha viver. Um terceiro elemento em cena é Boni, que surge recorrentemente do nada que é a vastidão sovada pelo vento da estepe, inevitavelmente ao som doe Rivers Of Babylon, dos Boney M.

Entre o sonho de uma vida familiar segundo os ecos da tradição e a “alternativa” urbana que se coloca hoje no horizonte de muitos jovens cazaques, Tulpan olha o texto da narrativa que nos propõe tomando o contexto (geográfico e antropológico) com peso igualmente protagonista. Não é como um documentário com histórias (de ficção) de gente dentro. Antes uma reflecção que parte de figuras e trama ficcionadas que, na verdade, observa de perto o conflito que o presente coloca perante a vida de quem carrega uma “genética” quotidiana plena de hábitos de outros tempos.



Imagens do trailer de Tulpan.

Friday, December 23, 2011

David Fincher premiado pelos críticos de Nova Iorque


David Fincher e o seu filme sobre o nascimento do Facebook, A Rede Social, dominaram os prémios do National Board of Review of Motion Pictures, organização de Nova Iorque, tradicionalmente reconhecida como uma das mais importantes do jornalismo crítico dos EUA. Além do prémio de melhor filme do ano, A Rede Social foi ainda distinguido nas categorias de melhor realizador, melhor actor (Jesse Eisenberg) e melhor argumento adaptado (Aaron Sorkin). A lista completa dos premiados está disponível no site da NBR.

Tuesday, December 20, 2011

Música para uma câmara de filmar


O cinema de Dziga Vertov foi já por várias vezes visitado por inúmeros músicos, o desafio de dar novos sons a imagens que sem eles nasceram de resto projectando-se através das obras de tantos outros cineastas do mundo, de Dreyer ou Murnau a Fritz Lang, entre muitos outros mais. Vertov é uma vez mais o ponto de partida para uma abordagem feita de sons, desta vez pelo compositor britânico Michael Nyman.

Em tempos tendo conhecido uma estreita relação com o cinema de Peter Greenaway (para quem assinou uma extensa obra musical, passando por filmes como A Zed And Two Noughts ou The Cook, The Thief, His Wife and Her Lover), Michael Nyman tinha já em tempos criado uma banda sonora para o clássico O Homem da Câmara de Filmar, obra-prima do mudo e o filme mais citado da filmografia de Vertov. Um reencontro com a obra do cineasta russo levou-o a criar música para os filmes, respectivamente de 1926 e 28 Shestaya chast mira (habitualmente apresentado com o título em inglês Sixth Part Of The World) e Odinnadtsatyy (The Eleventh Year). Tal como O Homem da Câmara de Filmar são títulos que ajudaram a definir uma linguagem documental mais poética que feita de prosa, o olhar da câmara de Vertov e a sua forma de sequenciar e montar imagens sendo reconhecida pelo próprio Michael Nyman como tendo afinidades com o trabalho de um compositor. De resto, num texto sobre os dois filmes (feito para a sua recente edição em DVD, com a música de Nyman), recordam-se textos publicados à época da estreia de Sixth Part Of The World, que o tratam como “poema de factos” e “uma sinfonia em cinema”. Referência central do minimalismo europeu (a cunhagem do termo ‘minimalismo’ é, de resto, de sua autoria, Michael Nyman reencontra na música que criou para estes dois filmes alguma da cor sinfonista, ritmicamente vibrante e melodicamente luminosa que recordamos de algumas das suas bandas sonoras para os primeiros filmes de Greenaway. Não será um mundo de surpresas, mas por aqui moram alguns dos melhores momentos da obra recente do compositor.

Saturday, December 17, 2011

Prémios do Cinema Europeu... nas televisões?


Confirmando uma tradição profundamente negativa, os Prémios do Cinema Europeu aconteceram quase clandestinamente, sem que a maioria dos meios de comunicação se esforçasse, ao menos, por referir a sua importância simbólica. Daí que, mais do que nunca, se justifique uma reflexão sobre o papel que esses meios, em geral, e as televisões, em particular, têm — ou poderiam ter — numa dinâmica verdadeiramente europeia da produção cinematográfica — este texto tem por base uma crónica de televisão publicada no Diário de Notícias (3 de Dezembro), com o título 'Cinema sem audiência'.

Os Prémios do Cinema Europeu ocorreram no sábado (4 Nov.) na capital da Estónia, Tallinn. Foi a 23ª edição dos chamados “Oscars” do cinema europeu. Cumprindo uma funesta tradição, temos sabido muito pouco da sua realização através das televisões. Aliás, esse silêncio devorador contamina quase toda a imprensa, em claro contraste com a cobertura dos Oscars de Hollywood (a três meses de distância da respectiva cerimónia).
Uma vez mais, são irrelevantes os discursos militantes em defesa da “identidade” do cinema europeu (como são patéticos os que tentam minimizar a riqueza artística de Hollywood). O que está em jogo é, precisamente, o débil poder mediático dessa “identidade” e a indiferença quase global das televisões às suas peculiaridades culturais e económicas — sem esquecer que qualquer cultura se articula sempre com opções de natureza económica.
Sabemos que não acontece assim em todo o continente europeu. Para nos ficarmos pelos exemplos mais óbvios, citemos o ancestral envolvimento da BBC com a indústria cinematográfica, ou ainda o modo como, desde os tempos do ministro Jack Lang, a França foi construindo uma rede de produção que tende a implicar todos os canais de televisão — com inevitável destaque para o Arte, projecto franco-alemão que tem a relação com o cinema como um dos seus pilares conceptuais e financeiros.
Para além de opções de fundo que nunca foram tomadas — e que são, inevitavelmente, de natureza política —, o drama desta situação passa, como é óbvio, pela informação. Assim, o noticiário cinematográfico, além de escasso, tende a favorecer o anedótico e o pitoresco. Sem surpresa, convenhamos: tendo sido o cinema empurrado, na maior parte dos casos, para horários noctívagos, o seu esvaziamento jornalístico limita-se a ecoar os valores dominantes das programações.
Claro que há sempre esse discurso demagógico que nos garante que o “público” prefere ver telenovelas... Certamente. Em todo o caso, fica uma sugestão construtiva: que se programem filmes às nove da noite e novelas às duas da madrugada antes de voltarmos a discutir a “verdade” das audiências.

Wednesday, December 14, 2011

Novas edições: Duran Duran, From Mediterranea With Love


Duran Duran
“From Mediterranea With Love” EP

Skin Divers / iTunes

3 / 5


Editado na recta final de 2010, All You Need Is Now revelou uns Duran Duran revigorados pela presença a bordo (como produtor) de Mark Ronson. O disco, que revela a melhor colecção de canções que o grupo edita desde o “clássico” álbum Rio, de 1982, acaba também por reflectir o que o próprio Ronson descreveu como o sucessor desse álbum que os Duran Duran não tinham nunca chegado a criar. Com lançamento exclusivamente digital (a edição física está pensada para ocorrer em Fevereiro), All You Need Is Now revelou-se um considerável sucesso nas vendas (de música online, entenda-se), tendo chegado a passar pelo primeiro lugar de tabelas de vendas da loja iTunes em alguns países (entre os quais Portugal). Complemento directo a All You Need Is Now, poucos dias depois, e também apenas com edição digital, chegava o EP From Mediterranea With Love. O disco apresenta apenas um tema inédito – Mediterranea (que deverá integrar o alinhamento a versão física de All You Need Is Now) – no qual reencontramos mais um bom exemplo de feliz colaboração entre banda e produtor, numa composição mid tempo cenicamente bem elaborada. A Mediterranea o EP junta depois duas (claramente menos entusiasmantes) gravações ao vivo de Ordinary World e (Reach Up For The) Sunrise. Oportunidade perdida aqui para, havendo vontade de usar registos live, juntar peças do chamado electro set da digressão que se seguiu ao anterior Red Carpet Massacre (a versão de Warm Leatherette dos The Normal, cruzada com All She Wants Is, por exemplo, seria peça mais apelativa que novas visões de dois temas já algo “estafados” na memória Duran Duran).

Sunday, December 11, 2011

Em conversa: MGMT (1)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Ben Goldwasser dos MGMT, que serviu de base ao texto ‘O desafio de encontrar quem resista às modas’, publicado na ediçãoo de 18 de Dezembro do DN Gente.

Muitos ficaram surpreendidos com o que revelaram em Congratulations, o vosso segundo álbum... Acha que as pessoas esperam que as bandas se repitam?
É verdade, e isso acontece mesmo muitas vezes. Por vezes as bandas até aproveitam para capitalizar um pouco com um segundo álbum parecido com o anterior, mas as pessoas eventualmente podem depois fartar-se disso... Porque então parece que uma banda não tem nada mais para dizer e as pessoas seguem depois em busca de outra...

Houve quem descrevesse o vosso segundo disco como suicídio comercial...
Não estamos a tentar ser comerciais. Para mim o suicido comercial acontece mais quando uma banda se preocupa em ser comercial e então faz algo que possa sabotar a sua carreira. Nós estamos a tentar estabelecer uma carreira tentando fazer algo diferente a cada disco.

O sucesso de temas como Kids e Time to Pretend apanhou-vos de surpresa?
Não esperávamos de todo. E ainda hoje estamos espantados por toda a atenção que recebemos... Deu-nos um público e estamos felizes por isso. Houve quem dissesse que estávamos a tentar alienar esse público com este novo álbum, que estávamos a tentar livrar-nos dos fãs do momento... Não concordo nada com essa visão. Tentamos ligar-nos a mais pessoas de uma forma que faça sentido. Talvez muitos dos que ouviram o nosso primeiro álbum e nele só gostaram de Kids e Time To Pretend possam entrar nas novas canções. Queremos mantê-los e mostrar-lhes algo novo. Não estamos a tentar perder fãs...
(continua)

Wednesday, December 7, 2011

Na era digital...

Discografia Kraftwerk - 29
'Musique Non Stop' (single), 1986



Fruto de um processo longo (que determinaria inclusivamente um desfecho inesperado para o álbum que editariam em 1986) os Kraftwerk saíram do um silêncio de quase três anos que se seguiu à edição do single Tour de France com um cartão de visita para um novo álbum que revelava um ascetismo minimalista como nunca antes a sua música conhecera. Editado em single a poucos dias do lançamento de Electric Cafe, Musique Non Stop revelava um som quase despido à essência da sua matriz rítmica, pontuais notas definindo uma ténue sugestão de melodia. O single não repetiu a carreira de sucesso de algumas canções de anos recentes, mas atingiu o número um na tabela de música de dança nos EUA.



Imagens do teledisco de Musique Non Stop, explorando uma ideia de construção digital que vinca uma noção de desmaterialização e, ao mesmo tempo, de secundarização do músico (o ser humano) perante a sua criação artística.

Sunday, December 4, 2011

Novas edições: Duran Duran, All You Need Is Now


Duran Duran
"All You Need Is Now"

Skin Divers / iTunes
4 / 5

Se é lícito que aos Rolling Stones se elogie, e com razão, o “back to the basics” que ditou os rumos do mais recente A Bigger Bang ou, a David Bowie, o que o devolveu aos caminhos de um Hunky Dory nos dias de hours... ou mesmo, a Madonna, o reencontro com a "sua" Nova Iorque dos oitentas em Confessions On A Dance Floor, porque não aplicar a mesma lógica aos Duran Duran no momento em que, 28 anos depois, finalmente apresentam um disco que os devolve aqueles que foram os momentos que confirmaram a definição das linhas mestras da sua identidade. Ou seja, ao soberbo Rio, álbum de 1982 frequentemente apontado como a obra-prima do grupo (estatuto que, na verdade, deveria ser repartido com o não menor álbum de estreia, de 1981, outro daqueles raros discos cujo alinhamento não revela um único passo ao lado). Para um grupo que, apesar dos altos e baixos, e das alterações que conheceu internamente depois de 1985 (até ao reencontro da formação original e, entretanto, a estabilização no line up a quatro nos últimos anos), nunca na verdade deixou de se manter activo (e ao contrário de tantos outros seus contemporâneos nunca optando por estratégias de mera capitalização do poder na nostalgia “quarentona”), os Duran Duran são um raro caso de sobrevivência criativa entre as bandas da sua geração. Tal como o sucesso os brinda em ciclos, uns mais favoráveis, outros nem por isso, também as ideias parecem caminhar entre as melhores e as menos inspiradas nas horas de gravar discos. E ao longo dos anos pós-duranmania (período de triunfo global entre 1981 e 85) tanto nos deram o pior (Liberty, de 1990 ou Pop Trash, de 2000) como o melhor (Medazzaland, de 1997 ou Red Carpet Massacre, de 2007), estes dois últimos discos, por razões distintas, representando contudo casos em que o sucesso não reconheceu o seu potencial. Medazzaland, de 1997, foi o mais “alternativo” dos discos do grupo na década dos noventas em que uma nova geração neles encontrava uma banda apontada pelo dedo por admiradores como Billy Corgan (Smashing Pumpkins) ou Courtney Love (Hole). Mas chegou numa altura de desentendimentos e consequente divórcio com a editora que os acompanhara desde o início, o álbum não chegando sequer a ser editado na Europa. Red Carpet Massacre, onde colaboravam Timbaland ou Justin Timberlake revelava uma aproximação às linguagens pop da década dos zeros, traduzindo ainda uma antiga relação com ecos do rhythm’n’blues que sempre habitaram a música dos Duran Duran (com expressão maior em Notorious, de 1986). Contudo, à errada escolha de single de apresentação juntou-se um surdo silêncio na hora de se esperar o segundo (e certo) single (que deveria ter sido Nite Runner), o álbum acabando mais perto do massacre que da passadeira vermelha... Longe de uma grande editora, o 13º álbum dos Duran Duran chega agora sob uma expectativa criada mês após mês ora através de clips ‘making of’ postados na Internet, ora pelo entusiasmo com que Mark Ronson, o produtor, ia descrevendo os trabalhos, a ele cabendo a frase que apontava o disco como o sucessor de Rio que nunca havia sido criado. Agora que ouvimos o álbum não podemos senão dar razão a Mark Ronson. Aspesar da angulosidade contemporânea do tema-título, da recontextualização pop uma alma mais ‘disco’ em Safe (In The Heat Of The Moment) e de quase descarrilar no menos inspirado Leave A Light On, o tutano de All You Need Is Now é puro Duran Duran. Vintage nas referências colhidas na sua memória, o irresistível Blame The Machines retomando o viço de um Hungry LIke The Wolf (se bem que em regime mais electrónico que eléctrico), o belo The Man Who Stole A Leopard continuando a história onde The Chauffeur a deixara nas últimas notas de Rio... Pelo caminho há ainda novos sinais de uma antiga (boa) relação com uma noção de pop luminosa e dançável em canções como Being Followed, Runaway Runaway ou Girl Panic e uma sumptuosa balada (sem contudo os excessos de maquilhagem de estúdio dos dias de Seven and The Ragged Tiger) em Before The Rain... Guitarras e electrónicas em diálogo, melodias feitas de luz e alma pop, detalhes de filigranas para teclas e cordas (cortesia Nick Rhodes) e, cereja sobre o bolo, refrões que ninguém poderá dizer que não são “classic” Duran Duran. Com um alinhamento de nove canções (como o de Rio), sabendo-se que haverá três temas adicionais na edição física (em CD e vinil) esperada a 2 de Fevereiro, All You Need Is Now pode não repetir as ousadias de Medazzaland ou Red Carpet Massacre, apostando claramente no reencontro com ecos de uma genética que, na verdade, é a sua. Mas traz a melhor colecção de canções dos Duran Duran desde os dias de Rio. Mark Ronson tinha mesmo razão!

Thursday, December 1, 2011

Novas edições: Brian Wilson, Brian Wilson Reimagines Gershwin


Brian Wilson
“Brian Wilson Reimagines Gershwin”
Walt Disney Records / EMI Music
2 / 5

Ao olhar para a capa do disco nela vemos inscritos dois nomes maiores da história do século XX: George Gershwin e Brian Wilson, o primeiro sendo reconhecido pelo segundo como (explica o booklet) tendo sido o autor da sua mais antiga memória musical. Mas na hora de somar um mais um, o resultado está longe de ser o que, potencialmente, se poderia esperar… Este é um álbum de versões, no qual vemos Brian Wilson a, como o título sugere, reimaginar a música de Gershwin através da sua linguagem… Em teoria a ideia poderia colocar na mesa um desafio, mas na prática o que escutamos não se afasta muito de um aplicar de uma espécie de filtro que transforma Gershwin em peças de pop solarenga, de alma sinfónica e com harmonias vocais (e até parece que estamos a descrever os Beach Boys de meados de 60…). Ocasionalmente o encontro traduz-se em instantes curiosos, como quando I Got Rhythm respira uma pulsão doo wop.It ain’t Necessairly So, um pouco como a restante etapa Porgy & Bess do álbum, é de magra visão (e basta recordar a versão que os Bronski Beat criaram em 1984 para sentir como, de facto, é possível reamiginar esta canção num outro contexto pop). Há duas novidades maiores no alinhamento, correspondendo à cedência (por parte dos herdeiros de Gershwin) de dois fragmentos deixados inacabados pelo compositor aos quais, agora, Brian Wilson deu forma final. São eles The Like In I Love You e Nothing But Love You, o primeiro uma balada longe de surpreendente, o segundo em regime pop à la Beach Boys, em ambos os casos o transformador ofuscando aqui o transformado… Algo decepcionante, este é um disco de versões que, se por um lado mostra como quem as assina deve chamar a sua personalidade às canções, por outro peca apenas por não sair muito do que parece ser um terreno seguro em volta das mais recorrentes e conhecidas marcas de si mesmo, ficando aquém do que de potencialmente interessante haveria a explorar em mais profundos diálogos com as heranças clássicas e jazzísticas da música de Gershwin.

Friday, November 25, 2011

Para recordar John Lennon


Yoko Ono recorda John Lennon em entrevista. Este texto foi publicado na edição de 9 de Outubro do DN Gente com o título 'Unidos Por um Prego Imaginário'. A data da publicação assinalava aquele que seria o 70º aniversário do músico e o lançamento de uma série de reedições, com som remasterizado, da sua obra a solo.


O que faria hoje John Lennon se ainda fosse vivo? 70 anos, certamente, como de resto manda o calendário de quem nasceu a 9 de Outubro de 1940 (num hospital de Liverpool). E, musicalmente? "Ele teria avançado rumo aos computadores", responde sem hesitar Yoko Ono, a viúva com quem o DN falou há algumas semanas num hotel no centro de Londres, onde apresentou não apenas a série de antologias e reedições de títulos da obra de Lennon que acabam de ser editadas, como partilhou memórias da sua vida a dois com um dos ícones maiores da história da música.

Conheceram-se ainda os Beatles viviam os seus melhores dias. "Foi uma hora antes da inauguração de uma exposição minha" em Londres, recorda Yoko Ono. "Tínhamos acabado de montar tudo e disse ao dono da galeria para não deixar entrar ninguém antes da inauguração. Mas ele apareceu-me com um tipo ao lado dele. Se calhar era um amigo próximo dele e não deveria dizer nada... Entraram, desceram à cave..." Decidiu segui-los e desceu também as escadas. "Estava a uns dois metros e o dono da galeria viu que eu ali estava e disse para o John: 'Olha, esta é a artista.'" O galerista não lhe disse então o nome do convidado... "Nem o faria, porque era um Beatle", reconhece Yoko. "Mas não reparei, mesmo que ele tivesse dito John Lennon", confessa. E então falaram pela primeira vez: "O John perguntou-me se poderia pregar um prego... E eu disse que, se pagasse cinco xelins, poderia. E isso era o que eu tinha pensado na noite anterior. Ninguém iria comprar o meu trabalho, assim tinha de encontrar uma forma de me ajustar financeiramente. E pensei que poderia cobrar sempre que alguém fizesse algo. Cinco xelins... Ele então respondeu se poderia pregar um prego imaginário... E pensei, este tipo está a jogar o meu jogo... A verdade é que ele não tinha dinheiro nenhum com ele", revela. Yoko reconhece que, na altura, estava longe de conhecer bem os Beatles. "Conhecia o nome Ringo, porque quer dizer maçã em japonês. Tinha lido algo sobre os Beatles num jornal quando ainda estava no Japão. Eram uns tipos com uns penteados estranhos e muito populares. Mais nada..."

Não muito tempo depois, Yoko era presença inse-parável ao lado de John, inclusivamente entre os restantes elementos dos Beatles. Contudo, e mesmo depois de terminadas as gravações de Abbey Road, no Verão de 1969, não pensava que o fim da banda seria inevitável tão pouco tempo depois. "Não pensei que fossem acabar. Pensei que continuariam... Talvez na sua mente ele pensasse que gostaria de se tornar mais livre", comenta.


Na verdade, John Lennon iniciou uma carreira a solo ainda os Beatles editavam discos. Mas desde logo ficava clara a expressão de uma personalidade mais política que o que alguma vez havia mostrado entre os fab four. "No momento em que ele se afirmou como um indivíduo, como um autor de canções, achou que seria correcto expressar-se à sua maneira e como o desejaria fazer. Nos Beatles ele tinha de ter em conta os outros. E acho que ele teve razão em fazer as coisas como fez", explica. Hinos como Give Peace a Chance ou Xappy Xmas (War Is Over) são apenas alguns exemplos da manifestação de um espírito político cuja acção chegou inclusivamente a incomodar a administração Nixon em inícios dos anos 70. "Toda a gente o conhecia. Eu tinha ali um papel secundário. Mas penso que o facto de ele ter surgido daquela forma os terá tocado", confirma a artista.

A paz mundial estava na agenda do casal. E entre as manifestações que criaram para a tentar promover, contam-se os famosos bed-ins, nos quais John e Yoko, deitados nas suas camas de hotel, abriram as portas dos quartos, deixando entrar os jornalistas. Perante a ideia, certamente houve quem esperasse escândalo... "Ui, ficaram tão desapontados! ", graceja hoje Yoko Ono. "Acho que as pessoas se riram. Não esperávamos que se rissem", comenta. "Pensámos que sempre que fizéssemos algo em favor da paz mundial, tudo estaria diferente num ano. Que haveria paz dentro de um ano... E isso nunca aconteceu. Mas hoje sinto que 99 por cento das pessoas no mundo desejam a paz. E o um por cento que fica de fora está apenas a ser malandro. É preciso que se compreenda que somos um vastíssimo grupo de pessoas que o desejamos", alerta quase em forma de apelo. Mas, "como John o disse em tempos, esta não é a época para apenas um herói. Não posso apontar uma pessoa apenas que carregue o fardo deste incrivelmente complexo mundo. Ou seja, todos teremos de fazer qualquer coisa".

No momento em que passam 70 anos sobre o nascimento do músico (e no mesmo ano em que se assinalarão os 30 anos da sua morte), como acha Yoko que ele gostaria de ser recordado. O cantautor? O promotor da paz no mundo? O working class hero (herói da classe trabalhadora), como ele mesmo cantou? "Era tudo o que ele era, sim... Mas ele não pensava em nada disso quando trabalhava. Ele tinha apenas 40 anos", sublinha.


Nos últimos meses, a artista acompanhou pessoalmente a preparação de uma série de lançamentos que agora assinalam a data. "Estes são os 70 anos, a próxima data a assinalar deverão ser os 80" e, acrescenta, espera "ainda estar por cá". Mas sublinha que "este é o momento para fazer tudo isto pelo trabalho do John". Uma das razões pelas quais enfrentou este desafio foi mesmo "o facto de acreditar que o poder do seu espírito, a sua energia, ser algo de que precisamos agora". Yoko lembra que "as novas gerações, mas também nós, vivemos num clima de medo. E isso decorre do facto de tantas tragédias que aconteceram. Mas temos uma energia que podemos usar para mudar o mundo. E para isso o John é muito bom. Disse Gimmie Some Truth". É, explica, uma pequena observação "que traduz aquilo de que precisamos mais nestes tempos". A verdade é, diz ainda Yoko Ono, "um soro muito importante na vida. E está em falta. O John cantou sobre muitas coisas. Atreveu-se a dizer certas coisas... Arriscando mesmo a sua própria vida, de certa forma". De resto, Yoko Ono acredita que "ele teria sobrevivido se tivesse feito apenas canções bonitas. A sua atitude sobre outros assuntos fez com que algumas pessoas se irritassem".

A morte de Lennon, essa não a consegue explicar. Nem mesmo quando se lhe pergunta se leu o livro Agulha no Palheiro, de J. D. Salinger, que terá inspirado o assassino Mark Chapman, em busca de uma qualquer possível justificação. "Não faço ideia... Há pessoas que enlouquecem e matam a sua própria família... E sem razão, muitas vezes. Há muita loucura no mundo", remata.

Durante anos, Yoko Ono foi muitas vezes acusada de ter feito toda uma vida na sombra de Lennon. "Acusada de viver à sombra de um génio?", questiona. E responde: "Uma das razões pelas quais não acredito que assim seja é o facto de ter tido sempre confiança no meu trabalho. Mas havia ali uma árvore bela e uma sombra que me protegeu, e isso fez-me sentir bem."

Monday, November 21, 2011

Renato Seabra, escravo mediático


A - Este é um mero exemplo (infelizmente, muito longe de ser único) do mundo mediático em que vivemos — um mundo em que a identidade de um ser humano pode ser sujeita a uma banalização que, noutros tempos, ligaríamos ao simplismo da "literatura de cordel", mas que hoje em dia é indissociável do triunfo global do imaginário moralista das telenovelas.

B - Repare-se: estas observações não pretendem escamotear a gravidade das acusações pela qual Renato Seabra terá que responder, nem esquecer a complexidade afectiva de uma história pessoal que apenas podemos intuir. Nada disso: o que aqui se discute é a obscenidade de um universo de "informação" e "jornalismo" que tende a escolher metodicamente os seus escravos simbólicos para, com eles, produzir discursos sobre a existência humana que desafiam o direito à privacidade e, mais do que isso, o direito a ser tratado com dignidade (inclusive quando se é suspeito ou culpado de um crime).

C - Daí que volte a ser pertinente chamar a atenção para o facto de a maioria dos nossos políticos darem mostras de uma militante indiferença (será patética ignorância?) face às especificidades da sociedade mediática em que vivemos: neste mundo saturado de ilusões de oportunidades para dizermos “eu” e proclamarmos a nossa “individualidade”, tornou-se cada vez mais problemático fazer passar o valor mais clássico, e também mais visceral, da política: Nós [1 + 2]. Fazer política é algo mais do que corrigir os desmandos da economia — é também defender o factor humano.

Thursday, November 17, 2011

Números (para dançar)

Discografia Kraftwerk - 23
'Numbers' (single), 1981



Editado em alguns territórios apenas para efeitos promocionais, em outros lançado como single destinado ao circuito comercial, Numbers representou mais uma chamada de atenção, a 45 rotações, para o alinhamento do álbum Computer Love, de 1981. A canção (que ainda hoje mora no alinhamento dos concertos do grupo) não corresponde aos modelos mais próximos da canção pop, propondo antes uma relação mais directa com uma nova ideia de música de dança electrónica. Como lado B as várias edições apresentaram versões de Computer Love.

Saturday, November 12, 2011

Três olhares por Berlim (5)


Três imagens em volta dos enormes tubos de espelhos que permitem a iluminação natural ao átrio principal da estação ferroviária nos subterrâneos de Potsdamer Platz.

Monday, November 7, 2011

Para ouvir em 2011: Anna Calvi


Com álbum de estreia a caminho (a editar brevemente pela Domino Records), Anna Calvi é uma das estreantes de quem mais se fala para 2011. Parte de uma afinidade com os espaços de uma PJ Harvey, mas expande os seus caminhos a uma multidão outras referências. Minimalista nos recursos, dotada de uma voz de rara teatralidade, apresenta-se para já ao som desta versão de Jezebel.

Friday, November 4, 2011

"Playtime" em 70 mm


Não é exactamente uma novidade... em boa verdade, tem mais de 40 anos. Mas é um evento de tal modo raro que merece ser assinalado, mesmo acontecendo do outro lado do Atlântico: em Nova Iorque, o Museum of the Moving Image vai voltar a exibir Playtime (1967), de Jacques Tati, numa cópia de 70 mm — o formato, muito utilizado nas superproduções dos anos 60, caíu praticamente em desuso. Curiosamente, a Criterion Collection, editora americana do filme em DVD, surge associada a essa exibição, a provar, afinal, como hoje em dia se reabrem as mais inesperadas hipóteses de articulação entre salas escuras e suportes "alternativos". A passagem de Playtime integra-se no programa de reabertura ao público daquela instituição e, mais concretamente, na inauguração de uma nova sala equipada com projecção digital e 3D.

Monday, October 31, 2011

Figuras do ano: Tilda Swinton


Não faltaram já, ao longo da sua obra, motivos para, justificadamente, fazer de Tilda Swinton uma das grandes actrizes do nosso tempo. Este ano apresentou-nos contudo uma das melhores interpretações de toda a sua carreira num filme que, de resto, conta também com a sua intervenção como co-produtora. No papel de uma matriarca em Milão (de origem russa) e com todas as falas num claro italiano, Tilda Swinton contribuiu para fazer de Eu Sou O Amor um dos maiores acontecimentos cinematográficos do ano.

Friday, October 28, 2011

Perfume Genius (aromas extra)


O álbum de estreia de Perfume Genius vai conhecer uma nova edição na próxima semana, juntando três novos temas ao alinhamento. Learning, um dos grandes discos de 2010, surge assim num formato de CD com um cupão que permite o download de três novas canções, com os títulos Dreeem, Your Drum e Divine Faxes. Esta é a capa desta nova edição do disco.

Wednesday, October 26, 2011

Século XXI — ser ou não ser (1/2)

De uma representação de Hamlet, pela Saratoga Shakespeare Company

Na sua edição de 5 de Dezembro, a revista "Notícias Magazine", do Diário de Notícias, foi dedicada às ideias que dominaram a primeira década do século XXI, organizadas a partir de nove temas: Ambiente / Crise / Redes Sociais / Mulher / Justiça / Eu / Terrorismo / Genoma — esta é a primeira parte do texto que escrevi, para ilustrar o tema "Eu", com o título 'Depois do apocalipse'.

A 15 de Maio de 1871, numa célebre carta ao seu amigo Paul Demeny, o francês Arthur Rimbaud condensou a sua solidão criativa numa expressão que se transformaria numa espécie de lema existencial para o homem do século XX: “Eu é um outro.”
De que falava, afinal, o poeta? Celebrando a necessidade de lidar com “todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura”, Rimbaud atribuía ao poeta (“Poeta”) um radical programa de sofrimento: “Inefável tortura em que ele tem necessidade de toda a fé, de toda a força sobre-humana, em que entre todos se transforma no grande doente, no grande criminoso, no grande maldito — e no supremo Sábio.”
No século XXI, já não há poetas malditos. Nem solidões radicais. Mas temos o Facebook e a sua estonteante glória: mais de 500 milhões de pessoas inscritas numa rede de “amigos” (espantosa banalização de uma palavra que já teve o valor sagrado de uma raridade) que lhes garante que o seu “eu” está sempre em ligação com algum “outro”.
Na página de entrada do Facebook , um austero mapa do mundo, habitado por uma série de rudimentares figurinhas humanas, sugere infinitas ligações entre as suas personagens. Qual a distância entre o estudante universitário de Harvard, fechado no quarto, e o pastor errante na imensidão das planícies da Mongólia? Entre o esquimó recolhido no seu iglô e o africano à procura do último santuário dos elefantes? Nenhuma… Click! E estamos do outro lado do planeta! Ou, pelo menos, protagonizamos a ilusão de viajar num mapa virtual.
Acabou-se, assim, a angústia do “ser ou não ser” do Príncipe da Dinamarca: o outro é, agora, apenas uma variante electrónica do meu eu. Entrámos na idade do narcisismo sem culpa. E se alguém evocar as lições cruéis de Sigmund Freud (ele que trabalhou a difícil herança de Rimbaud, enfrentando os medos e fantasmas do nosso século XX), corre o risco de passar por estúpido e pretensioso. Ou apenas de cometer o pecado de estar offline. Nas auto-estradas da informação, Shakespeare [imagem] viu-se coagido a mudar de emprego: estar ou não estar online, eis a questão.
Não admira que, socialmente, nos ofereçam todos os dias os mais variados privilégios desse “abre-te Sésamo!” contemporâneo que é a personalização. Tudo, mas mesmo tudo, passou a ser personalizado: os gadgets do automóvel, o desenho da mobília, as compras do supermercado... O telemóvel, essa pedra preciosa da comunicação, instalou-se no nosso quotidiano como o objecto supremo da personalização. E tanto mais quanto, todos os dias, alguma marca nos lança à cara mais uma promoção que garante mais possibilidades de ligação por melhor preço.
A tragédia íntima do nosso viver futurista desenha-se aí: somos educados apenas para desejar cada vez mais circuitos de informação, mas já quase não se pensa que informação circula e, sobretudo, o que fazemos com ela. O adolescente online faz mesmo gala em coleccionar mais faixas de música do que aquelas que a sua existência mortal alguma vez lhe permitirá escutar. Isto para já não falarmos do facto de os ruídos das linguagens dominantes (a começar pela publicidade televisiva) nos terem feito esquecer que saber escutar é uma arte eminentemente humana, sem a qual nenhuma partilha é possível.

[continua]

Saturday, October 22, 2011

Luz e sombras de Bruce Springsteen (3/3)


[1] [2] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a terceira parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro). Em baixo, um registo de 1978, com o tema The Promise, que empresta o título ao álbum de gravações inéditas, editado em simultâneo com a remasterização de Darkness on the Edge of Town.

Ao longo da década de 70, a iconografia clássica da estrela rock sofreu os mais diversos abalos. Lembremos apenas as sucessivas máscaras do camaleónico David Bowie ou a pose andrógina de Patti Smith, fotografada por Robert Mapplethorpe na capa de Horses (1975), um ícone universal de toda a história da música popular.
Na sua assumida distância, a capa de Darkness on the Edge of Town é outro exemplo carregado de simbolismo. De facto, o retrato assinado por Frank Stefanko (curiosamente, também um fotógrafo regular de Patti Smith) apresenta-nos um Bruce Springsteen alheado de qualquer conotação de vedeta. Mais tarde, o próprio Bruce viria a reconhecê-lo de modo certeiro, quando referiu que Stefanko “anulou qualquer efeito de celebridade”, deixando apenas uma “essência” que rima com o despojamento do próprio álbum.
Em boa verdade, estamos perante alguém que sempre mostrou alguma relutância face aos modos correntes de tratamento mediático. Mesmo no campo particular dos telediscos: embora haja alguns magníficos exemplos a pontuar o seu trajecto, o certo é que Bruce nunca se deu bem com a obrigação de fazer “pose”. Nessa medida, e embora não esquecendo o rigor dos seus trabalhos em estúdio, sempre se afirmou como um “animal de palco”, alguém para quem a vibração da música implica a procura obstinada (e também o desejo) de alguma audiência.
A sua aparição na capa de Darkness on the Edge of Town possui a frieza paradoxal (porque comunicativa) de uma personagem que não sabemos decifrar, mas que nos deixa uma certeza muito humana: a de que é alguém com uma história muito concreta, única e irredutível. Sendo ele um genuíno contador de histórias, podemos, talvez, concluir que todas as histórias que nos tem contado são derivações mais ou menos calculadas de uma autobiografia em suspenso.

Wednesday, October 19, 2011

Nomeações dos Grammys reveladas

Eminem lidera as nomeações para a edição deste ano de entrega dos Grammys. Soma um total de dez nomeações, seguido de Bruno Mars com sete e Lady Gaga, Jay Z e o grupo Lady Antebellum com seis. Uma das surpresas das nomeações é o facto dos Arcade Fire surgirem entre os candidatos a Álbum do Ano.

Lista completa de nomeados aqui.

Sunday, October 16, 2011

Uma noite pela avenida


Uma mesma rua, várias salas, concertos mais ainda. Na sua terceira edição o Super Bock em Stock pode não ter um cartaz com tantos nomes imediatos, mas o modelo voltou a fazer da Avenida da Liberdade um corredor vivo de gente a circular com entusiasmo entre acontecimentos. Entra-se, gosta-se e fica-se. Ou segue-se para outra sala ali perto… A rotina faz-se da vontade do momento, entre reencontros e descobertas. Ficam quatro retratos rápidos.

Owen Pallett – Na elegante sala do Tivoli a sua música consegue ocupar um palco onde nada mais acontece senão a sua presença e som. Domina as artes do palco, cria empatia. Passa por Caribou. É sempre um bom reencontro.


B Fachada – Informal em palco mesmo na hora de figurar num dos palcos principais (no São Jorge, mais precisamente). Acompanhado a dada altura por Sérgio Godinho. O par em bom diálogo, a versão de Etelvina contudo sem resistir (na leitura apresentada) à anemia da falta da electricidade face à versão original. Canções do novo disco pedem, para já, mais audições.

Kele – O álbum oscila entre o electro e a evocação de modelos da canção pós-punk. Em palco opta pela força das electrónicas e põe um Tivoli inteirinho a dançar. Tenderoni irresistível. Com Bloc Party a meio da ementa, o concerto acabou por ser inesperada boa surpresa.

Wavves – Ao fim da noite, na Garagem no Marquês de Pombal. O som não era o melhor, de facto, mas ajudou a desarrumar o som das mais arrumadas canções do disco mais recente.

Wednesday, October 12, 2011

Para ouvir em 2011: The Naked and the Famous


Continuamos a visitar nomes para escutar com atenção em 2011. Hoje damos a volta ao mundo para escutar os Naked and the Famous. Chegam da Nova Zelândia e muitas das opiniões já publicadas sobre a sua música usam os MGMT como comparação, na sua face mais pop e dançável, entenda-se. Aqui fica o teledisco que acompanhou o recente Punching In a Dream.

Saturday, October 8, 2011

E assim nasce um clássico

Discografia Kraftwerk - 26
'The Model' (single), 1981



Em finais de 1981, e com o volume de atenções de algumas estações de rádio no tema incluído no lado B do single Computer Love, uma decisão editorial trocou a ordem de apresentação das canções. E, com apenas breves ajustes no grafismo da capa, eis que surgia como Lado A de um single o tema The Model, na verdade originalmente lançado no alinhamento do álbum The Man Machine, de 1978. O single foi acolhido com entusiasmo, chegando inclusivamente a atingir o número um no Reino Unido já em 1982. No Lado B surgia, consequência da troca de alinhamento, o tema Computer Love.

Wednesday, October 5, 2011

Para ouvir em 2011: Jai Paul


Chama-se Jai Paul e é outra das grandes promessas para 2011. Londrino de 21 anos, cruza pistas neon soul com um interesse pela exploração de novas electrónicas e, tal como em James Blake e Jamie Woon, um interesse pelos limites do silêncio. Apadrinhado a início por Giles Peterson, está hoje na XL Recordings, que deverá lançar este ano o seu álbum. Para já tem como cartão de visita este BTSTU.

Podem ouvir esta música aqui

Sunday, October 2, 2011

Acontecimentos do ano: Óperas do Met em HD


Uma das grandes novidades da temporada de música 2010/2011 da Gulbenkian assinalou a entrada de Lisboa no circuito de cidades (e são já mais de 40) que, pelo mundo fora, assistem às óperas do Met, em Nova Iorque, em transmissões em directo em alta definição. A programação abriu com um soberbo Ouro do Reno.

Wednesday, September 28, 2011

O som de 2011 (segundo a BBC)


A BBC elege, todos os anos, as “grandes esperanças” para os 12 meses que se seguem. A short list costuma estar recheada em boas ideias (por lá estavam este ano nomes como os de Jamie Woon, Jai Paul e James Blake). Mas na hora de escolher quem ganha, o voto acaba por vezes a resvalar para escolhas menos arrojadas. Este ano a grande vencedora foi Jessie J, uma inglesa de 22 anos, com história que já passou pelos palcos do West End e um interesse pelo R’n’B americano que a levou entretanto a escrever para alguns nomes de primeiro plano. Não se avalia uma promessa por uma canção, mas Do It Like A Dude, o tema cujo teledisco podemos ver no YouTube não parece mais que uma derivação do modelo Lady Gaga, não trazendo de novo nada de particularmente interessante.

Aqui fica o Top 5 deste ano:

1º Jessie J
2º James Blake
3º The Vaccines
4º Jamie Woon
5º Clare Macguire




Imagens do teledisco de Do it Like A Dude, de Jessie J


E esta é a lista dos vencedores nos anos anteriores:

2003 – 50 Cent
2004 – Keane
2005 – The Bravery
2006 – Corrine Bailey Rae
2007 – Mika
2008 – Little Boots
2009 – Ellie Goulding

Saturday, September 24, 2011

O novo disco de David Lynch

David Lynch regressa aos discos e anuncia para 2011 a edição de um álbum feito com electrónicas. Para já foi esta semana lançado um single de antecipação. Trata-se de um double A-side com os temas Good Day Today e I Know.

Podem ouvir um dos temas do novo single aqui.

Wednesday, September 21, 2011

E eis que regressam os Bright Eyes

Connor Oberst vai voltar a editar um álbum com os Bright Eyes. Depois de dois álbuns em nome próprio e de um integrado no colectivo Monsters Of Folk, regressa em 2011 com o sucessor de Cassadaga, a que dará o título The People’s Key. O disco chega em Fevereiro.

Friday, September 16, 2011

Marc and The Mambas, 1983


Na sequência da reedição dos dois álbuns da discografia de Marc and The Mambas, aqui ficam imagens captadas numa actuação em 1983 ao som de Black Heart, um dos singles extraídos do álbum Torment and Toreros. Recorde-se que este projecto foi uma aventura em paralelo de Marc Almond ainda em tempo da primeira vida dos Soft Cell.

Tuesday, September 13, 2011

Discos de Natal a dois tempos (2)


Hábito frequente nos anos 50, a ideia de fazer álbuns de Natal não conheceu tão expressiva oferta nos anos 60 junto da nova geração pop/rock. Alguns grupos, mesmo assim, mantiveram a tradição intacta, entre eles os Beach Boys que, em 1964, editaram o Beach Boys Christmas Album, no qual levam as canções de Natal ao encontro da sua solarenga linguagem californiana.


Um dos primeiros grandes valores da geração indie da década dos zeros a chamar atenções para a redescoberta de um gosto em gravar canções de Natal, Sufjan Stevens edita regularmente, desde 2001, EPs anuais nos quais junta novas leituras de standards de Natal a inéditos que cria expressamente para a quadra. Em 2006 juntou alguns desses EPs na caixa Songs For Christmas, um clássico contemporâneo do género.

Thursday, September 8, 2011

Prémio Louis Delluc para "Mistérios de Lisboa"


Fica, desde já, como uma das mais importantes distinções internacionais de toda a história da produção cinematográfica portuguesa: Mistérios de Lisboa, filme de Raúl Ruiz produzido por Paulo Branco (envolvendo entidades de Portugal, França e Brasil), recebeu o Prémio Louis Delluc, um dos mais importantes atribuídos anualmente em França, a par dos Césares e da Palma de Ouro de Cannes.
Muitas vezes referido como o "Goncourt do cinema", este é um prémio criado em 1937, em homenagem ao crítico e realizador Louis Delluc (1890-1924), consagrando o "melhor filme do ano", em França, produzido com algum envolvimento francês. O júri integra vinte personalidades da crítica e do meio cinematográfico, actualmente sob a presidência de Gilles Jacob (presidente do Festival de Cannes). Este ano, os nomeados eram:

- Dos Homens e dos Deuses, de Xavier Beauvois
- Des Filles en Noir, de Jean-Paul Civeyrac
- Carlos, de Olivier Assayas
- La Princesse de Monpensier, de Bertrand Tavernier
- Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz
- O Escritor Fantasma, de Roman Polanski
- Tournée, de Mathieu Amalric
- White Material, de Claire Denis

>>> Site oficial de Mistérios de Lisboa.

Monday, September 5, 2011

Em directo, para o grande ecrã

A Los Angeles Philharmonic, que nos visitou este fim de semana, vai iniciar este ano um programa de transmissões de concertos seus para salas de cinema (para já apenas nos EUA e Canadá). Ao todo serão 450 os ecrãs a ver Gustavo Dudamel a dirigir a orquestra em obras de Beethoven, Brahms e Tchaikovsky.

Friday, September 2, 2011

Captain Beefheart (1941 - 2010)


O seu nome verdadeiro era Don Van Vliet, mas entrou na história do rock como Captain Beefheart — compositor, cantor, poeta, artista multifacetado, estranho a todas as ortodoxias, faleceu a 17 de Dezembro no Northern California Hospital, contava 69 anos.
Nunca foi um cantor de sucessos(s), mas a sua capacidade de integrar as mais variadas influências (blues, free jazz, rock psicadélico, etc., etc.), transfigurando-as de forma exuberante e provocatória, conferiram-lhe um estatuto de referência nas convulsões das décadas de 1960/70, acabando por se transformar também num dos pais simbólicos da New Wave e do punk. A sua iniciação na música, ainda adolescente, passou pela amizade e colaboração com Frank Zappa (1940-1993) — foi Zappa que sugeriu a Van Vliet o nome artístico "Captain Beefheart"; quando Zappa fundou os Mothers of Invention, Van Vliet assumiu-se como Beefheart e criou a sua Magic Band. Trout Mask Replica (1969) é habitualmente citado como o seu álbum mais importante. Em 1982, Van Vliet abandonou a música, dedicando-se por inteiro à pintura.

>>> Ice Cream for Crow, do álbum homónimo de 1982, o último de Captain Beefheart — Don Van Vliet assina a realização.


>>> Obituário no New York Times.
>>> Biografia, música, imagens: The Captain Beefheart Radar Station.

Tuesday, August 30, 2011

JFK — memórias com 50 anos


John e Jacqueline Kennedy: um par que definiu uma época, não apenas da política, mas do imaginário romanesco do mundo ocidental. Aproximando-se o 50º aniversário da tomada de posse de John F. Kennedy como 35º Presidente dos EUA — foi a 20 de Janeiro de 1961 —, a Biblioteca e Museu que ostenta o seu nome promove uma série de iniciativas comemorativas, incluindo a abertura de um arquivo digital para consultas online. Na respectiva inauguração, que contou com a presença de Caroline Kennedy (única sobrevivente entre os filhos do casal, presidente da Fundação da Biblioteca John F. Kennedy), foi revelado o âmbito do novo arquivo, incluindo: mais de 8 milhões de páginas dos papéis pessoais e políticos de JFK; mais de 400 mil fotografias; cerca de 2,2 milhões de metros de filmes; e 1200 horas de registos em video. Recorde-se que este ano se assinala o 48º aniversário da morte de Kennedy, assassinado em Dallas, no dia 22 de Novembro de 1963.

Saturday, August 27, 2011

Quando o baile passou por Lisboa

Foto: DN

Este texto de crítica ao concerto de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, foi originalmente publicado na edição de 12 de Dezembro do DN com o título ‘O Baile de Orgulho de Lady Gaga e seus Monstrinhos’.

Os números antecipados não deixaram ninguém enganado. Os números, entenda-se, das vezes que Lady Gaga mudou de roupa, dos novos temas a ser revelados ao longo do concerto, da quantidade de camiões que transportam na estrada todo o aparato cénico que transporta a Monster Ball Tour. Mas na noite de sexta- -feira, perante um Pavilhão Atlântico cheio e rendido desde bem antes da entrada em cena da rainha da noite, houve sobretudo espaço para a surpresa, que chegou na forma de uma entertainer que sabe juntar as artes do canto, da dança e da mise-en-scène a uma constante comunicação com a plateia, não perdendo nunca a oportunidade para expressar uma atitude política, mais que uma vez trazendo a Lisboa uma mensagem de firme apoio à comunidade LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgénero) que tem defendido desde os primeiros passos da sua carreira pública. De resto, e com uma recorrente enunciação de uma ideia de igualdade e integração dos excluídos (e aqui não apenas pela sua orientação sexual), Lady Gaga não deixou de mostrar porque muitos dela fizeram um ícone de absoluta referência.

Tratando os presentes como os seus "monstrinhos" e integrando a palavra Portugal em inúmeros instantes ao longo de todo o concerto, transportando até a dada altura uma bandeira portuguesa, Lady Gaga mostrou que quem a reduz a uma ideia de estrela para aparato visual e ponto final mais não faz senão expressar um preconceito mal informado.

De facto, e ao contrário de outros grandes espectáculos de grande produção do nosso tempo, ficou claro que a Monster Ball Tour não se limita a uma ideia de monumento para encher o olho. Além de uma mão-cheia de belíssimas canções pop com alma em sintonia com a pista de dança e de um conjunto de quadros cénicos (e com mais que apenas efeitos em vídeo), Lady Gaga leva a cena heranças naturais da tradição pop/rock cedendo espaço de visibilidade aos músicos (e não apenas a si mesma e aos bailarinos), ela mesma tocando piano (com uma espantosa atitude showbiz, cruzando diálogos com a plateia com a canção que nos ia apresentando) e, mais tarde, um bizarro teclado que mais parecia coisa saída de um filme de ficção-científica.


Lady Gaga é um ícone pop dos nossos dias e a Monster Ball é talhada à imagem e personalidade da figura que já inscreveu na história recente da cultura popular. É uma diva vestida a excesso e glamour, mas também a figura magoada. É brilho e luz, mas também sombra e sangue. Do jogo de contrastes nascendo uma voz que a si chama incompreendidos e diferentes, com eles partilhando o baile que, se por um lado é festa e libertação, por outro não deixa de reflectir sobre um mundo onde a noção de igualdade nem sempre é lida da mesma forma como a cantora o faz. Ela nasceu assim, como o deixou claro na hora de apresentar as cenas dos próximos capítulos em Born This Way, álbum a editar em Maio de 2011 e do qual levou a palco dois temas e uma declaração de princípios que reforça a sua forma diferente de estar na vida e música.

Sem pedir a caução da memória dos telediscos para chamar ao palco os singles que já fizeram história (evocando contudo as coreografias), apresentando uma colecção de criações de fazer inveja a muita passagem de modelos, Lady Gaga desfilou canções que são já clássicos do presente. Love Game, Just Dance, Paparazzi, Telephone ou Alejandro, terminando a noite ao som do inevitável Bad Romance. É raro vermos um artista da dimensão de uma Lady Gaga visitar-nos tão cedo na sua carreira. A boas horas a Monster Ball Tour não deixou assim Portugal excluído da mais impressionante digressão pop do presente.

Monday, August 22, 2011

Adam and the Ants, 1981


Um dos primeiros fenómenos pop da idade do teledisco, os Adam and the Ants são descendentes directos da primeira geração do punk londrino. Depois de primeiros singles que ajudaram a definir os caminhos da então chamada new wave e de um álbum de estreia que revelava uma pop com viço para ritmo e guitarras, o segundo LP, Kings Of The Wild Frontier projectou uma sequência de singles que, acompanhados por uma imagem de certa forma relacionada com o festim de excessos da contemporânea vaga neo-romântica, colocaram o grupo na primeira linha das atenções em finais de 1980. E em Janeiro de 1981, há precisamente 30 anos, este Antmusic era um dos singles em evidência na tabela dos mais vendidos da semana anterior no Reino Unido.



Adam and The Ants
'Antmusic'